De cruz
Por João Paulo Guerra
NÃO SEI o que chocou mais a opinião pública: se tomar conhecimento que mulheres e homens que no futuro vão administrar a justiça neste País se comportam como macaquinhos copistas nos exames, pressionados pela competição e por um conhecimento adquirido à pressa; se ficar a saber que a avaliação dos futuros magistrados, pessoas já com formação superior a adquirirem conhecimentos para a administração da justiça, se faz pelo sistema de respostas com cruzinhas, qual boletim dos jogos da Santa Casa. Porque copiar, para além do ilícito que constituirá em provas de aferição, sempre é uma actividade intelectual em que se reproduzem textos que se citam e identificam, ideias e formulações que outros fixaram e que passaram a constituir doutrina. Mas fazer prova dos conhecimentos adquiridos para exercer uma actividade tão rigorosa e responsável como é a administração da justiça com respostas por palpite entre hipóteses múltiplas sugere que no futuro as sentenças e acórdãos, as absolvições ou as penas, poderão ser ditados por escolha aleatória num boletim. Ou seja, sentenças de cruz.
Talvez toda esta estupefacção resulte de alguma ingenuidade e de irremediável romantismo. A ideia que muitos portugueses continuavam a ter sobre o CEJ era talvez a da instituição arejada e mesmo revolucionária dos tempos em que era seu director o Dr. Laborinho Lúcio. A dramaturgia da administração da justiça, a literatura judiciária, actividade de mulheres e homens cultos, que interagiam na sua formação com gente do teatro, da literatura e do jornalismo, abertos à vida e não se fechando na redoma dos códigos.
Não restam dúvidas que esses tempos já lá vão. Agora é de cruz. E já agora, copia-se, no pouco que há para copiar quanto à coluna em que se põe a cruzinha.
«DE» de 20 Jun 11NÃO SEI o que chocou mais a opinião pública: se tomar conhecimento que mulheres e homens que no futuro vão administrar a justiça neste País se comportam como macaquinhos copistas nos exames, pressionados pela competição e por um conhecimento adquirido à pressa; se ficar a saber que a avaliação dos futuros magistrados, pessoas já com formação superior a adquirirem conhecimentos para a administração da justiça, se faz pelo sistema de respostas com cruzinhas, qual boletim dos jogos da Santa Casa. Porque copiar, para além do ilícito que constituirá em provas de aferição, sempre é uma actividade intelectual em que se reproduzem textos que se citam e identificam, ideias e formulações que outros fixaram e que passaram a constituir doutrina. Mas fazer prova dos conhecimentos adquiridos para exercer uma actividade tão rigorosa e responsável como é a administração da justiça com respostas por palpite entre hipóteses múltiplas sugere que no futuro as sentenças e acórdãos, as absolvições ou as penas, poderão ser ditados por escolha aleatória num boletim. Ou seja, sentenças de cruz.
Talvez toda esta estupefacção resulte de alguma ingenuidade e de irremediável romantismo. A ideia que muitos portugueses continuavam a ter sobre o CEJ era talvez a da instituição arejada e mesmo revolucionária dos tempos em que era seu director o Dr. Laborinho Lúcio. A dramaturgia da administração da justiça, a literatura judiciária, actividade de mulheres e homens cultos, que interagiam na sua formação com gente do teatro, da literatura e do jornalismo, abertos à vida e não se fechando na redoma dos códigos.
Não restam dúvidas que esses tempos já lá vão. Agora é de cruz. E já agora, copia-se, no pouco que há para copiar quanto à coluna em que se põe a cruzinha.
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3 Comments:
Ó senhores!
Qualquer dia não poderá haver outro tipo de testes que não sejam os de cruzinhas.
Por uma razão especial: nem mesmo (muit)os professores catedráticos vão saber escrever (em) português.
Dúvidas?
Esperem e verão. Do jeito que as coisas levam, falaremos (quase) todos por gesticulação "técnica". Ou coisa assim...
A não ser que os correctores informáticos resolvam...
Caro amigo José Batista,
Como eu concordo consigo!!!!
Nem imagina como eu gostaria de ver Nuno Crato pôr travão ao novo aborto ortográfico - sendo possível, não sei, não conheço os moldes nos quais foi feita a "venda".
abraço
Olá, minha amiga Graça Maciel,
É um contentamento, merecer de si o tratamento de amigo.
Julgo que a Nuno Crato não falta "sarna" para se coçar. Pela minha parte, sinto satisfação por ser ele o novo ministro da educação. Já bastava...
Quanto a essa coisa das novas ortografias, suponho que estará para além dele.
Como sabe, gosto muito dos seus comentários, pela clareza, frontalidade e autenticidade que vejo neles.
Um abraço para si.
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