30.6.11

Recursos

Por João Paulo Guerra

QUEM NÃO SABIA ficou ontem a saber pelo Correio da Manhã que os portugueses são os terceiros consumidores mundiais de peixe e que Portugal importa pescado no valor anual de 660 milhões de euros. Ora Portugal importar peixe é uma realidade tão inopinada e ridícula como se o Saara importasse areia, a Sibéria importasse gelo ou a China importasse pessoas. Com cerca de 1800 quilómetros de costa, um mar territorial e uma zona económica marítima exclusiva de 200 milhas náuticas de extensão, com 1,7 milhões de km2 de superfície da ZEE contando com os mares dos Açores e da Madeira, constituindo a décima primeira maior zona económica exclusiva do mundo, tudo isto com um clima marítimo temperado, Portugal teria todas as condições e mais algumas - a história, a vocação - para ser auto-suficiente em matéria de produtos marítimos, entre os quais o pescado, e ainda para exportar com proveito os excedentes.

Mas não. Portugal dedicou-se laboriosamente, isso sim, a desmantelar o sector das pescas. Grande parte do sector seria de natureza artesanal e vai daí, em vez de o reconverter e desenvolver, tratou de o dizimar, o que terá dado muito jeito à concorrência. Também não se acrescentou indústria que se visse, antes se desmantelou a que havia, de maneira a transformar o peixe pescado nas costas portuguesas. De maneira que pode dizer-se que Portugal, nas últimas décadas regrediu aos tempos do Botas, quando exportava cortiça e importava rolhas.

Claro que o País está sempre a tempo de erguer de novo as velas, acertar o rumo e a orientação da agulha de marear, procurar o vento favorável e navegar à bolina para novos destinos. A questão é que em tempos ainda próximos os Assuntos do Mar só pescaram... submarinos.
«DE» 30 Jun 11

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5 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Embora a analogia fique bem no texto da crónica, deixo aqui uma curiosidade a propósito do absurdo que seria «se o Saara importasse areia»:
Há alguns anos foi notícia o facto de um país do Médio Oriente (onde não faltam desertos) ter, de facto, feito isso!

Sucede que a areia disponível nesse país não era apropriada para betão (da mesma maneira que não seria apropriada para fazer vidro ou usar em ampulhetas...)

30 de junho de 2011 às 09:30  
Blogger Xico said...

Estamos muito a tempo de pôr estaleiros a funcionar, construir bons navios de pesca e utilizá-los com muito proveito.
Ainda por cima, agora temos novos aviões da Força Aérea com grandes capacidades de identifcação e posterior punição de pesca ilegal e conseguiremos assim guardar essa nossa riqueza para nosso usufruto.

30 de junho de 2011 às 09:35  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Xico

Não nos esqueçamos que o argumento principal para a compra dos DOIS novos submarinos foi a protecção das nossas águas!

Ora, como quem os comprou está agora no Governo, vamos ver se tudo se conjuga...

30 de junho de 2011 às 09:47  
Blogger JARRA said...

Esquecem-se das quotas!
Não basta fazer navios e ir pescar - era preciso termos liberdade para o fazer! E sabem o que nós perdemos antes de perder o tino?

30 de junho de 2011 às 15:17  
Blogger Carlos Antunes said...

Caro Medina Ribeiro,

A história dos submarinos vem sempre com a acusação de que foram submarinos a mais.
Mas a verdade é que os submarinos, para a área marítima que temos, até deveriam ser 3 ou 4 vezes mais.
O problema é o desacerto que o pagamento/entrega causou, mais a corrupção.

Abraço!

30 de junho de 2011 às 16:19  

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