A tentação da seara alheia
Por Ferreira Fernandes
CAVACO Silva vai a Caminha, assiste à assinatura para a construção do Museu Sidónio Pais e fala aos jornalistas: "Eu gostaria que o euro fosse mais fraco." Não devia dizê-lo. Mas o Presidente até não foi professor de Economia? Precisamente por isso. Mais depressa se lhe perdoava que falasse de rimas na poesia ou do gaze a usar em cirurgias nos campos de refugiados. Aí, suspeitava-se que quisesse mostrar algum saber nas especialidades dos seus adversários nas anteriores presidenciais, Alegre e Nobre, e as suas palavras fariam parte de uma das funções de um Presidente: dizer coisas vagas.
Outra das funções é traçar linhas gerais e políticas globais. Agora, falar de coisas específicas e directamente ligadas ao que outros responsáveis exercem (sim, temos um primeiro-ministro e temos um ministro da Finanças, e nenhum dele se chama Aníbal) é meter-se em seara alheia. Sobretudo quando especifica sobre assunto em que passa por mestre. Passos Coelho, que remédio, já veio dizer que também ele considera que o euro está alto. Mas, suponhamos, que o Governo quisesse defender outra posição nas cimeiras europeias: abria-se uma polémica?
Que essa impertinência tenha sido dita à saída de uma cerimónia homenageando Sidónio Pais - o Presidente que acumulou, com golpe de Estado, as funções de chefe de Governo - é só infeliz coincidência. É, evidentemente, só isso - mas já basta que o seja. Não há assessores que previnam essas coisas?
«DN» de 18 Jul 11CAVACO Silva vai a Caminha, assiste à assinatura para a construção do Museu Sidónio Pais e fala aos jornalistas: "Eu gostaria que o euro fosse mais fraco." Não devia dizê-lo. Mas o Presidente até não foi professor de Economia? Precisamente por isso. Mais depressa se lhe perdoava que falasse de rimas na poesia ou do gaze a usar em cirurgias nos campos de refugiados. Aí, suspeitava-se que quisesse mostrar algum saber nas especialidades dos seus adversários nas anteriores presidenciais, Alegre e Nobre, e as suas palavras fariam parte de uma das funções de um Presidente: dizer coisas vagas.
Outra das funções é traçar linhas gerais e políticas globais. Agora, falar de coisas específicas e directamente ligadas ao que outros responsáveis exercem (sim, temos um primeiro-ministro e temos um ministro da Finanças, e nenhum dele se chama Aníbal) é meter-se em seara alheia. Sobretudo quando especifica sobre assunto em que passa por mestre. Passos Coelho, que remédio, já veio dizer que também ele considera que o euro está alto. Mas, suponhamos, que o Governo quisesse defender outra posição nas cimeiras europeias: abria-se uma polémica?
Que essa impertinência tenha sido dita à saída de uma cerimónia homenageando Sidónio Pais - o Presidente que acumulou, com golpe de Estado, as funções de chefe de Governo - é só infeliz coincidência. É, evidentemente, só isso - mas já basta que o seja. Não há assessores que previnam essas coisas?
Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Não, ainda não há assessores que previnam o Alzheimer.
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