8.8.11

É hoje que isto vai para o maneta?

Por Ferreira Fernandes

NAS SUAS MEMÓRIAS, Groucho e Eu, o mais famoso Marx que jogava na Bolsa recorda o seu ano de 1929. No elevador, o ascensorista contava-lhe que dois tipos bem vestidos falaram de uma empresa cotada e logo Groucho corria a comprar acções. No barbeiro, outra dica, e ele corria, ainda com sabão de barba na cara, a comprar acções... "Com o que eu não sabia de Bolsa dava para encher um livro", escreveu ele.
Sabemos como 1929 se apagou abruptamente, numa quinta-feira negra. Desta vez, na sexta-feira passada, ao fim do dia, já quando Wall Street não podia estrebuchar, a agência Standard & Poor's roubou um A ao eterno Triplo A americano.
Triplo A, no meu tempo de livros aos quadradinhos, era nome de rancho do Faroeste, onde se organizava logo um grupo de cavaleiros se alguém ousasse roubar alguma coisa. É o mais estranho deste caso: a quietude dos donos do rancho. Todos me dizem que hoje vai ser o caos ou o crash, a bancarrota. Vocês já sabem, eu ainda não sei, mas confesso-me tranquilo. Desastres que se anunciam dando um gentil fim-de-semana de descanso ao adversário - os japoneses, por exemplo, caíram de surpresa em Pearl Harbor - não são desastres nem são nada. Já me convenci que as finanças são meras engenharias e eles vão acabar por encontrar um alicate, ou uma bóia.
Quanto a Groucho Marx, na penúria com a quebra da Bolsa, foi obrigado a fazer filmes. E é por isso que nos lembramos dele.
«DN» de 8 Ago 11

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