14.8.11

A Física do Surf

Por Carlos Fiolhais

NÃO É SÓ nesta época de Verão que as praias da Gala (Figueira da Foz), de Peniche e da Ericeira são procuradas pelos surfistas. Os praticantes desse desporto sabem que, mesmo noutras épocas do ano, podem aí encontrar boas ondas, ondas para as quais eles podem subir e equilibrar-se durante algum tempo. Portugal tem sido cada vez mais um destino procurado pelos amantes da modalidade.

O moderno surf começou com a imitação pelos ocidentais das habilidades que os povos indígenas de algumas ilhas do Pacífico faziam nas suas praias. O capitão inglês James Cook relatou nos diários de bordo das suas viagens, em finais do século XVIII, números de surf realizados com canoas no Taiti e com pranchas improvisadas no Havai. Quer num caso quer noutro os naturais dessas ilhas conseguiam ir rapidamente, remando, para o sítio onde a onda ia rebentar, para depois “cavalgarem” a onda até chegarem à praia.

Claro que os surfistas não têm de dominar sofisticadas equações, mas a física, ainda que com alguma dificuldade (a física da rebentação das ondas não é nada simples!), explica o delicado equilíbrio que os surfistas alcançam. Um surfista deitado sobre uma prancha em águas mais ou menos paradas equilibra-se porque o seu peso somado ao da prancha, é simplesmente equilibrado pela força de impulsão, também vertical mas para cima, que Arquimedes descobriu na Antiguidade. Mas, quando há movimento da água, têm de se somar a essas forças outras, ditas hidrodinâmicas, que, além de equilibrarem o peso, permitem empurrar o surfista com a mesma velocidade da onda. Como é sabido por quem já viu as proezas dos surfistas, os atletas colocam-se de pé sobre a prancha, que para isso deve ser convenientemente inclinada. As leis da dinâmica de Newton explicam a graciosa sustentação que os melhores surfistas conseguem.

Há físicos que também fazem surf, sendo assim capazes de verificar por eles próprios as leis de Newton que conhecem melhor do que ninguém. Um deles, o norte-americano Antony Garrett Lisi, divide a sua vida entre a física teórica (propôs uma teoria de unificação de forças que tem sido muito badalada) e a prática do surf, tendo dificuldade em decidir-se por apenas uma dessas carreiras. Apaixonado pelas ondas, tem passado temporadas no Havai. Em Portugal, Pedro Bicudo, embora tendo como ocupação principal o ensino e a investigação da Física no Instituto Superior Técnico, é também um razoável surfista, que, sempre que pode, aproveita as magníficas ondas da praia da Ericeira. Claro que não é tão bom no surf como o seu compatriota Tiago Pires, um profissional que busca um lugar de topo no “ranking” mundial, mas tem prática suficiente para ser capaz de explicar a teoria científica do surf com pleno conhecimento de causa...
«SOL» de 12 Ago 11

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