O Marcelo diz que não percebe!
Por Baptista-Bastos
DISSE O MARCELO Rebelo de Sousa: "Não percebo porque é que o trabalho paga, e o capital não." Claro que o Marcelo percebe muito bem o porquê do facto. Mas o Marcelo gosta muito de dizer coisas e de dissimular os factos. Não é com a aplicação de reajustamentos incidentais que o mundo se recompõe e Portugal melhora. O Marcelo, inteligente e perverso, nada tolo e muito ligeiro, é daqueles comentadores do óbvio que não arriscam nenhuma opinião contrária às opiniões dominantes. Irrita um pouco, à direita e à esquerda, mas trata-se de brotoeja passageira.
A afirmação do Marcelo, no comentário habitual, aos domingos, na TVI, constitui a repetição, dramática por ser repetição, do conteúdo do seu método de ideias. Acaso ele desejasse criar contenciosos, desfazer compromissos de classe e outros, atacar o preço pago pelo poder, tudo isso seriam razões do nosso contentamento. Sobretudo, do nosso esclarecimento fundamental. Mas não. No essencial, o Marcelo cala, consente, desvia, e crê, com cinismo e advertida fidelidade, no sistema louco que nos destrói e liquida lentamente.
O que é grave. O Marcelo é um intelectual muito arguto, muito lido e muito capaz de nos surpreender. Assim, torna mais pesada a responsabilidade que lhe cabe nesta cumplicidade tenebrosa. O espectáculo mediático, por ele protagonizado, todos os domingos, é o fácil recurso à atenção dos outros. Claro que gosto de o ver e de o ouvir. E admito, sem reticências, que o aprecio pessoalmente. Não faz batota. Ou, melhor, a batota que pratica é outra: pertence aos domínios da prestidigitação e do malabarismo. Sabe, como nenhum outro preopinante das televisões, utilizar a frase-chave, a locução com efeito pirotécnico, a contradição como testemunho da diferença.
O Marcelo dá umas bicadas, pequeninas para não degenerarem em infecção, mas, infelizmente, nunca nos informa, nunca toma posição antagónica àquela que pertence ao discurso e à acção reinantes. "Não percebo porque é que o trabalho paga, e o capital não." A frase contém, no seu bojo, algo de degradante, por imoral. O sistema de que é paladino permite e estimula a indignidade, aquela e outras mais.
O Marcelo, lido em Keynes, tem, desde há muito, conhecimento de que o capitalismo é autofágico porque não sobrevive à tentação de "fornecer os ricos com meios para que fiquem mais ricos". E, também, de que esta etapa acelera o processo de dissolução do sistema, quando se lhe pode aplicar a metáfora de Dostoievski, Os Irmãos Karamazov: "Se não há Deus, tudo é permitido."
«DN» de 10 Ago 11DISSE O MARCELO Rebelo de Sousa: "Não percebo porque é que o trabalho paga, e o capital não." Claro que o Marcelo percebe muito bem o porquê do facto. Mas o Marcelo gosta muito de dizer coisas e de dissimular os factos. Não é com a aplicação de reajustamentos incidentais que o mundo se recompõe e Portugal melhora. O Marcelo, inteligente e perverso, nada tolo e muito ligeiro, é daqueles comentadores do óbvio que não arriscam nenhuma opinião contrária às opiniões dominantes. Irrita um pouco, à direita e à esquerda, mas trata-se de brotoeja passageira.
A afirmação do Marcelo, no comentário habitual, aos domingos, na TVI, constitui a repetição, dramática por ser repetição, do conteúdo do seu método de ideias. Acaso ele desejasse criar contenciosos, desfazer compromissos de classe e outros, atacar o preço pago pelo poder, tudo isso seriam razões do nosso contentamento. Sobretudo, do nosso esclarecimento fundamental. Mas não. No essencial, o Marcelo cala, consente, desvia, e crê, com cinismo e advertida fidelidade, no sistema louco que nos destrói e liquida lentamente.
O que é grave. O Marcelo é um intelectual muito arguto, muito lido e muito capaz de nos surpreender. Assim, torna mais pesada a responsabilidade que lhe cabe nesta cumplicidade tenebrosa. O espectáculo mediático, por ele protagonizado, todos os domingos, é o fácil recurso à atenção dos outros. Claro que gosto de o ver e de o ouvir. E admito, sem reticências, que o aprecio pessoalmente. Não faz batota. Ou, melhor, a batota que pratica é outra: pertence aos domínios da prestidigitação e do malabarismo. Sabe, como nenhum outro preopinante das televisões, utilizar a frase-chave, a locução com efeito pirotécnico, a contradição como testemunho da diferença.
O Marcelo dá umas bicadas, pequeninas para não degenerarem em infecção, mas, infelizmente, nunca nos informa, nunca toma posição antagónica àquela que pertence ao discurso e à acção reinantes. "Não percebo porque é que o trabalho paga, e o capital não." A frase contém, no seu bojo, algo de degradante, por imoral. O sistema de que é paladino permite e estimula a indignidade, aquela e outras mais.
O Marcelo, lido em Keynes, tem, desde há muito, conhecimento de que o capitalismo é autofágico porque não sobrevive à tentação de "fornecer os ricos com meios para que fiquem mais ricos". E, também, de que esta etapa acelera o processo de dissolução do sistema, quando se lhe pode aplicar a metáfora de Dostoievski, Os Irmãos Karamazov: "Se não há Deus, tudo é permitido."
Etiquetas: BB
6 Comments:
O prof.Marcelo é nefasto e entediante.E ainda por cima, pago pelo espectáculo degradante de se mostrar!
O zé povinho segue com admiração a verborreia ,sem perceber patavina dos conteúdos.É UM PERIGO!
Só não percebo como é que se aponta tudo o que de errado o papagaio caríssimo do Marcelo tem, e no meio se arremata com um auto de fé ao homem.
Isto da amizade tem muito que se lhe diga quando toca a ser objectivo e imparcial.
O MRS é um verdadeiro one-man-show.
Mesmo não concordando com muito do que ele diz, gosto sempre de o ouvir.
Não é nada parvo, está mais-do-que-bem informado, tem senso de humor q.b., é verrinoso e cínico sem ser malcriado, é bastante culto, não esconde as suas simpatias partidárias, coloca questões que são intelectualmente estimulantes, etc.
Ou seja: não me importaria nada de ficar um par de horas a conversar pessoalmente com ele.
Curiosamente, muitas das pessoas que eu conheço e que são seus adversários políticos pensam exactamente o mesmo. Um bom e honesto adversário pode ser muito interessante - na política, tal como no desporto.
Concordo com o "retrato" de Marcelo feito por BB.
Mas não há domingo em que não me veja à pressa a arrumar a cozinha para ir para frente da televisão. Antigamente ainda via a "contra-informação". Agora só vejo o Marcelo. Salvo excepções muito pontuais, de televisão é quanto aguento.
O diacho do homem, enche-me as medidas, mesmo quando está a fazer a "política" dele, à maneira dele.
E isto é curioso, porque nunca o achei bom político, nem lá perto.
Pois... Eu tenho um primo que é fanático do PS e odeia o Marcelo pelo facto de ele ser do PSD.
Não é capaz de ver "para além disso". É como os adeptos de um clube que não são capazes de apreciar as jogadas do adversário - só porque o é.
Tinha eu uns 16 anos quando fui ver o Benfica-Santos ao Estádio da Luz, para a Taça Intercontinental.
Pois acredite que eu nem vi o Pelé nem os outros craques brasileiros!
Só vi os "meus" (na altura eu era doente pelo SLB - depois curei-me...).
Dizem-me que o jogo foi uma maravilha (chegou a estar em 5-0...), mas eu só via "metade do jogo". Para mim, na altura, os do Santos eram os inimigos, e não os parceiros necessários para um espectáculo de luxo.
Como oiço dizer muitas vezes, CMR, "é muito isso".
Olhe, eu, às sextas-feiras, enquanto esperava pela hora de piano do meu mais novo, costumava ficar no carro a ouvir um programa da antena 1, com o Luís Delgado, a Ana Sá Lopes e o Carlos Magno. Pois não é que várias vezes ouvi o último a tentar depreciar o MRS... E pensava comigo, o C. Magno até diz umas coisas, algumas delas a fugir para o formalmente intelectualizado, mas com uma tendência acentuada para previsões fantasiosas, que os acontecimentos nunca confirmavam (resultados eleitorais autárquicos surrealistas, a previsão de que Sócrates ficaria no parlamento mesmo perdendo as eleições, e outras inanidades...), revelando pouco nobremente, em relação a MRS, o que me parecia ser uma tremenda "dor de corno", e mostrando, a meu ver, incapacidade de se ver ao espelho. Cheguei mesmo a irritar-me ao ouvi-lo e a "dizer-lhe", em "voz alta" que era Magno de nome e magro de humildade. A coisa foi evoluindo (isto foram meses e meses) até dar comigo a perguntar a mim próprio: será que estou a olhar para o Magno como o Magno olha para o MRS? E fiz mais um esforço. Debalde. E então deixei de ouvir o programa. De que nunca senti saudades. Com todo o respeito por qualquer dos participantes.
Enviar um comentário
<< Home