Elogio do orgulho e da dignidade
Por Baptista-Bastos
A UNIÃO EUROPEIA está a esboroar-se e os sábios discutem o sexo dos anjos. Anteontem, saímos aterrados do programa Prós e Contras. A questão já não é de ficar ou não ficar no euro. A questão é de sair e de como sair. Mas qualquer das portas conduz-nos à desgraça. Não conseguimos evitar as armadilhas da violência e da miséria, e a emocionante ideia dos "fundadores" do projecto está posta de lado. Politicamente, a União não existe; a solidariedade, imaginária; e o desenvolvimento económico caracterizado pela supremacia da Alemanha sobre todos os outros países. Sem esquecer que o nacionalismo ressurge com uma força inesperada e que a extrema-direita manifesta assustadoras práticas de reprodução.
A Europa das nações foi um mito, nascido das exigências pessoais e morais de alguns homens que haviam sofrido duas guerras. Há qualquer coisa de poético neste almejo; mas há, igualmente, algo de impraticável. O caso da Grécia é, somente, um incidente à espera de acontecer. Resulta de diferenças culturais e de opostas concepções políticas. Uma comunidade não é sinónimo de exclusão e de pobreza, se os seus dirigentes souberem e quiserem controlar as diversidades. A União nasceu desse equívoco. Afinal, não somos todos diferentes e todos iguais. Opuseram-se-lhe não só a subjectividade dos protagonistas políticos como a nova e tumultuosa ordem económica e uma juventude distanciada de uma definição comunitária.
Torna-se pungente assistir aos salamaleques de Pedro Passos Coelho ante os senhores do mando, e o afã com que se apressa a ser um zeloso cumpridor das ordens emanadas de fora. Há um défice de dignidade e de orgulho que a desenvoltura do primeiro-ministro não consegue dissimular, e se espelha, afinal, em todos nós. O conceito de inferioridade nasce daquele que se considera como tal. E esse conceito, levado ao limite, transforma num ser alienado aquele que a isso se submete. Se a Grécia expressou uma auto-afirmação simbólica, logo os países que se encontram na mesma linha de dificuldades demonstraram uma animosidade clara. A assimilação do medo faz parte das desigualdades de que a União é cada vez mais fértil.
Portugal, este Governo, exclui qualquer alternativa que abandone as regras impostas de fora. Todas as possibilidades que se combinem entre si são imediatamente eliminadas, numa lógica de alienação e de negação que chega a ser repugnante. Nada nos diz que a situação melhore nos próximos anos. Independentemente da vontade dos povos, dos protestos que façamos, das indignações que protagonizemos, das censuras que lavremos, os poderes que nos amarram são extremamente poderosos. Os estorvos que consigamos causar não chegam para alterar o projecto passadista e profundamente reaccionário que está em curso.
«DN» de 9 Nov 11A UNIÃO EUROPEIA está a esboroar-se e os sábios discutem o sexo dos anjos. Anteontem, saímos aterrados do programa Prós e Contras. A questão já não é de ficar ou não ficar no euro. A questão é de sair e de como sair. Mas qualquer das portas conduz-nos à desgraça. Não conseguimos evitar as armadilhas da violência e da miséria, e a emocionante ideia dos "fundadores" do projecto está posta de lado. Politicamente, a União não existe; a solidariedade, imaginária; e o desenvolvimento económico caracterizado pela supremacia da Alemanha sobre todos os outros países. Sem esquecer que o nacionalismo ressurge com uma força inesperada e que a extrema-direita manifesta assustadoras práticas de reprodução.
A Europa das nações foi um mito, nascido das exigências pessoais e morais de alguns homens que haviam sofrido duas guerras. Há qualquer coisa de poético neste almejo; mas há, igualmente, algo de impraticável. O caso da Grécia é, somente, um incidente à espera de acontecer. Resulta de diferenças culturais e de opostas concepções políticas. Uma comunidade não é sinónimo de exclusão e de pobreza, se os seus dirigentes souberem e quiserem controlar as diversidades. A União nasceu desse equívoco. Afinal, não somos todos diferentes e todos iguais. Opuseram-se-lhe não só a subjectividade dos protagonistas políticos como a nova e tumultuosa ordem económica e uma juventude distanciada de uma definição comunitária.
Torna-se pungente assistir aos salamaleques de Pedro Passos Coelho ante os senhores do mando, e o afã com que se apressa a ser um zeloso cumpridor das ordens emanadas de fora. Há um défice de dignidade e de orgulho que a desenvoltura do primeiro-ministro não consegue dissimular, e se espelha, afinal, em todos nós. O conceito de inferioridade nasce daquele que se considera como tal. E esse conceito, levado ao limite, transforma num ser alienado aquele que a isso se submete. Se a Grécia expressou uma auto-afirmação simbólica, logo os países que se encontram na mesma linha de dificuldades demonstraram uma animosidade clara. A assimilação do medo faz parte das desigualdades de que a União é cada vez mais fértil.
Portugal, este Governo, exclui qualquer alternativa que abandone as regras impostas de fora. Todas as possibilidades que se combinem entre si são imediatamente eliminadas, numa lógica de alienação e de negação que chega a ser repugnante. Nada nos diz que a situação melhore nos próximos anos. Independentemente da vontade dos povos, dos protestos que façamos, das indignações que protagonizemos, das censuras que lavremos, os poderes que nos amarram são extremamente poderosos. Os estorvos que consigamos causar não chegam para alterar o projecto passadista e profundamente reaccionário que está em curso.
Etiquetas: BB
2 Comments:
É tão fácil...falar.
BB, excelente prosador, de uma prosa eivada de profundo humanismo, parece-me cair nalgumas imprecisões na análise que faz:
Parece-me estabelecer uma dicotomia entre a vontade do Povo e a dos políticos que o memso tem escolhido. Não concordo. Se reparar bem os políticos, a chamada classe política, são como que um destilado dessa tal massa que muitos definem como coisa boa, pura, o "bom Povo" como, por exemplo, arengava o Spínola.
Quanta à falta de espírito comunitário, ou seja, o entendimento da Comunidade como território de solidariedade, essa falta não existe apenas dos mais ricos para os mais pobres, é recíproca. Em Portugal só quando começou a faltar o dinheiro é que muita gente se lembrou que isto se chamava "União", de resto sempre se pensou em termos de "saldo=D-H".
Portugal, os portugueses, não têm culpa de ser pobres, é certo, mas já não isentos delas ao terem contemporizado (para utilizar um termo macio) com uma governação de ladroagem. Enquanto sobraram umas migalhas dos banquetes dos Limas, Loureiros e cª, não houve indignação que se visse. Queria lá o Povo saber se um comprava barcos com margem corruptória ou outro fazia auto-estradas onde não havia passantes...mas apenas rendas para os amigos e futuras sinecuras para os fazedores de "obra"...
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