29.12.11

100 mil

Por João Paulo Guerra

MAIS de 100 mil portugueses emigraram em 2011.

E este será porventura o mais dramático e significativo balanço do ano: um em cada 100 portugueses teve e agarrou a oportunidade de deixar Portugal e procurar lá fora o que seu País não lhe dá. Estes 100 mil não esperaram que ninguém reconhecesse a incapacidade da política atual em proporcionar dignidade de vida aos portugueses e os aconselhasse ou exortasse a saírem. Foram pelo seu pé e muitos outros o fariam se encontrassem uma porta de saída.

Entretanto, esta questão das sugestões a setores da população portuguesa para que emigrem tem vindo a ser desviada para demagogias laterais que procuram escamotear o essencial. E o essencial é que esta espécie de democracia está a dar aos portugueses tão poucas saídas para a vida como os tempos mais plúmbeos da ditadura. As diferenças são meramente formais - emigrar agora com papéis ou outrora a salto, hoje para bairros de alvenaria ou ontem para os bidonville. De resto, antes para fugir à guerra colonial e à miséria, depois para fugir à pobreza forçada e à desigualdade, do que se trata igualmente é de procurar um lugar para viver o presente e encarar o futuro que o país natal lhes recusa. E o país é Portugal ocupado e debilitado, sem outro rumo que não seja a sorte madrasta para os seus naturais.

Os emigrantes têm em várias épocas da história ajudado a construir o País. Mas ninguém deixa a sua terra e os seus por gosto. A miséria das políticas e as políticas de miséria é que forçam o destino da diáspora. No momento atual, a cavalgada do empobrecimento, do desemprego, da perda de direitos é que empurra milhares de portugueses lá para fora. Houve quem pensasse que nunca mais aconteceria. Afinal foi só trocar a mala de cartão pela mochila.
«DE» de 29 Dez 11

Etiquetas:

1 Comments:

Blogger Bmonteiro said...

Partem,
mas deixam um país orgulhoso de auto estradas e rotundas, na Metrópole como na província ultramarina da Madeira com os túneis.
Há dois anos (2010), era suposto ir haver para os 100 mil nascimentos anuais, 100 mil cheques no banco para as contas poupança dos novos portugueses.
Viu-se, está a ver-se.
Entretanto, dá para pagar a uma jovem super reformada a presidir na Acrópole de S. Bento.

29 de dezembro de 2011 às 19:07  

Enviar um comentário

<< Home