É Natal, ninguém leva a mal
Por Antunes Ferreira
NESTE NATAL o Governo envergou o traje vermelho, talvez seja melhor dizer encarnado, não vá haver susceptibilidades, debruado a branco, calçou as botas e enfiou (-nos) o barrete. A época das Festas Felizes tem destas coisas, pois é nela que emergem os sentimentos mais bondosos. A fraternidade impera, os presentes também.
O bacalhau com batatas e couves, convenientemente adubado com azeite e vinagre, acompanhados por salsa migadinha, cebola idem e alho aspas enche as mesas familiares num abundância festiva, complementada pelos coscorões, filhoses diversas, rabanadas e, last but not the least o portuguesíssimo bolo-rei, que estudos recentes vieram revelar ser de… origem francesa. Já não se pode acreditar em ninguém, muito menos em bolo-rei.
Queixamo-nos este ano que o Natal já não é o que era e o correio electrónico explica-nos porquê. Apesar de a maioria dos Portugueses já ter recebido a mensagem, aqui fica ela, demonstrando uma vez mais que esta é uma terra de pobretes, mas alegretes. Sinteticamente: os Reis Magos são exemplo. O Baltazar traz o incenso (o ouro, está quieto); o Belchior, mirra (nem falar da prata) e o Gaspar tira-nos tudo.
E, agora, a graçola complementar, posta a correr sabe-se lá por quem, ao fim e ao cabo quem tinha razão era a Velha Senhora: o boato é crime, fere que nem uma lâmina. Mesmo assim, corre também por aí que os monarcas que vão adorar o Menino desta feita não usam os camelos, porque estes foram todos para o Governo. Mal intencionados sempre houve, há e haverá; bocas sujas e peçonhentas, igualmente. Porém, num momento em que estamos todos empenhados – em levar a Pátria para a frente, como é óbvio e natural, há que ter muito cuidado com o que se diga. A emigração é aconselhada; resta saber quem será o último, para que não se esqueça de apagar a luz. Crise é crise.
Entretanto, veio a lume em diversos órgãos de informação (?) que, a partir de 1 de Janeiro de 2012, os doentes pagarão mais pelas taxas moderadoras, por cada exame efectuado no âmbito das urgências e há actos de enfermagem, como a administração de uma vacina ou a mudança de um penso, que vão passar a ser cobrados.
Ou seja, a Saúde, um bem, de resto despiciendo, vai custar mais cara. Em alguns casos chega-se mesmo a duplicar os valores das taxas moderadoras. Mudar um penso passa a ser motivo de interrogação. Terá um cidadão de fazer uma escolha ponderada entre o muda ele ou muda o enfermeiro num Centro de Saúde? Ah, mas os mais desfavorecidos ficam isentos; muito bem. A classe média critica: é sempre ela quem paga.
Mas, que se há-de fazer? A troika mandou, o Executivo, aliás diligente, foi mais papista que o Papa, há que aceitar resignadamente o que daí resultou. De resto, convém não esquecer que para ganhar o Reino dos Céus, há que sofrer nesta efémera passagem pela terra. É o que se pode entender como a remissão dos piores pecados – à martelada.
A autoridade, perdão, a austeridade impera. Através dela chegaremos à felicidade total num destes dias, num destes anos. Que o mesmo é dizer, estamos na pole position para atingir o Shangri-La., a juventude eterna, a meta do leite e do mel. Porém, para que isso nos aconteça, temos de vencer a crise, pagando os erros capitais cometidos anteriormente.
Anteriormente é uma maneira de dizer; esbanjadores, despesistas, similares & correlativos foram os governos socialistas. Toda essa corja começou no final da equipa encabeçada pelo Senhor Professor Aníbal Cavaco Silva, esse sim modelo exemplar de contenção e de boa gestão da res publica. No saudoso tempo em que éramos bons alunos.
Mas, estamos no Natal e em Portugal: ninguém leva a mal.
NESTE NATAL o Governo envergou o traje vermelho, talvez seja melhor dizer encarnado, não vá haver susceptibilidades, debruado a branco, calçou as botas e enfiou (-nos) o barrete. A época das Festas Felizes tem destas coisas, pois é nela que emergem os sentimentos mais bondosos. A fraternidade impera, os presentes também.
O bacalhau com batatas e couves, convenientemente adubado com azeite e vinagre, acompanhados por salsa migadinha, cebola idem e alho aspas enche as mesas familiares num abundância festiva, complementada pelos coscorões, filhoses diversas, rabanadas e, last but not the least o portuguesíssimo bolo-rei, que estudos recentes vieram revelar ser de… origem francesa. Já não se pode acreditar em ninguém, muito menos em bolo-rei.
Queixamo-nos este ano que o Natal já não é o que era e o correio electrónico explica-nos porquê. Apesar de a maioria dos Portugueses já ter recebido a mensagem, aqui fica ela, demonstrando uma vez mais que esta é uma terra de pobretes, mas alegretes. Sinteticamente: os Reis Magos são exemplo. O Baltazar traz o incenso (o ouro, está quieto); o Belchior, mirra (nem falar da prata) e o Gaspar tira-nos tudo.
E, agora, a graçola complementar, posta a correr sabe-se lá por quem, ao fim e ao cabo quem tinha razão era a Velha Senhora: o boato é crime, fere que nem uma lâmina. Mesmo assim, corre também por aí que os monarcas que vão adorar o Menino desta feita não usam os camelos, porque estes foram todos para o Governo. Mal intencionados sempre houve, há e haverá; bocas sujas e peçonhentas, igualmente. Porém, num momento em que estamos todos empenhados – em levar a Pátria para a frente, como é óbvio e natural, há que ter muito cuidado com o que se diga. A emigração é aconselhada; resta saber quem será o último, para que não se esqueça de apagar a luz. Crise é crise.
Entretanto, veio a lume em diversos órgãos de informação (?) que, a partir de 1 de Janeiro de 2012, os doentes pagarão mais pelas taxas moderadoras, por cada exame efectuado no âmbito das urgências e há actos de enfermagem, como a administração de uma vacina ou a mudança de um penso, que vão passar a ser cobrados.
Ou seja, a Saúde, um bem, de resto despiciendo, vai custar mais cara. Em alguns casos chega-se mesmo a duplicar os valores das taxas moderadoras. Mudar um penso passa a ser motivo de interrogação. Terá um cidadão de fazer uma escolha ponderada entre o muda ele ou muda o enfermeiro num Centro de Saúde? Ah, mas os mais desfavorecidos ficam isentos; muito bem. A classe média critica: é sempre ela quem paga.
Mas, que se há-de fazer? A troika mandou, o Executivo, aliás diligente, foi mais papista que o Papa, há que aceitar resignadamente o que daí resultou. De resto, convém não esquecer que para ganhar o Reino dos Céus, há que sofrer nesta efémera passagem pela terra. É o que se pode entender como a remissão dos piores pecados – à martelada.
A autoridade, perdão, a austeridade impera. Através dela chegaremos à felicidade total num destes dias, num destes anos. Que o mesmo é dizer, estamos na pole position para atingir o Shangri-La., a juventude eterna, a meta do leite e do mel. Porém, para que isso nos aconteça, temos de vencer a crise, pagando os erros capitais cometidos anteriormente.
Anteriormente é uma maneira de dizer; esbanjadores, despesistas, similares & correlativos foram os governos socialistas. Toda essa corja começou no final da equipa encabeçada pelo Senhor Professor Aníbal Cavaco Silva, esse sim modelo exemplar de contenção e de boa gestão da res publica. No saudoso tempo em que éramos bons alunos.
Mas, estamos no Natal e em Portugal: ninguém leva a mal.
Etiquetas: AF
2 Comments:
A.F.
Gostei do post. O Gasparzinho, fantasminha camarada, levou-nos as massas. Que Jesus lhe perdoe, eu não.
Explica lá, como um país Républicano, tem bolo rei? Eu não gosto. Chamo-lhe bolo de lixo. Tem hortaliça a mais.
Gostas de Lampreia de ovos? Essa é que é portuguesa. Dessa sim, vou comer um bocadinho. O bolo rei, fica para o nosso? presidente. O homem gosta. Até fica de boca aberta a comê-lo.
Abraço grande.
Maria.
PS (sabes que sou e serei sempre)
Para quando o livro?
Maria
Pois, caro Antunes Ferreira
De bolo-rei percebe Cavaco Silva.
E camelos somos nós todos. Porque assim nos tratamos e assim nos tratam. Refiro-me aos que merecem (nós, quase todos) este governo, como mereceram (quase todos nós) o anterior, de esbanjadores, despesistas, similares & correlativos. Uma corja indistinta, como a que, em tempos, foi encabeçada pelo Senhor Professor Aníbal Cavaco Silva. E assim se desenrolou o ciclo. Até darmos com os burrinhos na água.
Agora, veio o diabo e escolheu... -nos.
Salvamo-nos?
(...)
E ninguém leva a mal, seja ou não Natal.
Parece-me.
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