O herói do Barreiro
Por Antunes Ferreira
O BARREIRO está eufórico. Isto porque, num mar encapelado de desgraças, terramotos, roubos, assaltos, assassinatos, crises, austeridades, drogas, poluições, prostituições, compadrios, corrupções et aliud, de lá surgiu uma notícia – por incrível que pareça – boa. É pouco: óptima, excelente, fabulástica. E sem a terrível adversativa: mas,… Como despedida dum velho ano acelerando em cadeirinha de rodas para o forno crematório e como entrada do novo (que aliás já vem velho) deixa-nos felizes. O que cada vez é mais raro.
Publicou «A Bola» na sua edição de quinta-feira que Luís Miguel Menoito, com dez anos de idade, transformou-se no pequeno herói do cidade da ex-Siderurgia Nacional. E muito justamente. A sua mãe, Maria Menoito, de 51 anos, é epiléptica e quem a socorre quando tal é necessário, de há três anos a esta parte, é ele. Ou seja, segue atentamente a progenitora desde os sete anos. É obra.
Maria, por mor da doença, sofre crises convulsivas. A última aconteceu há um mês e quem a salvou foi o filho. Conta-se em poucas linhas. O Luís, apesar da sua tenra idade, não perdeu a calma, chamou o 112 e deu todas as informações ao INEM sobre o estado da mãe. Quando os bombeiros chegaram à rua de Maria e Luís, tinham uma criança de calções e camisola, ao frio, à espera da ambulância, a acenar-lhes, com uma calma que surpreendeu tudo e todos – continua o diário desportivo.
A história impressionou e comoveu toda a corporação. Luís vive apenas com a progenitora e quando ela passa a noite no hospital, a criança fica a cargo de uma instituição no Barreiro. A mãe Maria diz que às vezes é ele quem a alerta para tomar a medicação, orgulhosa do seu homem da casa. Na noite em que foram chamados, os bombeiros de serviço, Jorge Costa e Hugo Rodrigues, leram uma carta que os tocou. Nela, Maria indicava algumas das necessidades da família. E logo nasceu uma onda de solidariedade: arranjaram-se roupa e alimentos para os dois.
Aluno no terceiro ano, e naturalmente adora brincar, como qualquer criança. Gosta do Lego e do Homem-Aranha, mas a maior paixão do Luís... é o Benfica. É assim desde pequeno. É fã do Carlos Martins, que agora está a contas com o problema de saúde do filho, de todos conhecido. Mas, cheio de fair play confessa que também gosta do Ronaldo, do Figo, do Fábio Coentrão e do Aimar. Resumindo: adora todos os jogadores do seu clube da Luz, mas quanto ao treinador Jorge Jesus, acha que «é chato. Está sempre aos gritos!»
«A Bola» conclui a notícia revelando que o Luís menino pediu um presente ao Pai Natal. É só o que lhe falta: ir ao Estádio da Luz ver um jogo do Benfica pela primeira vez. Quem sabe se 2012 não será o ano em que alguém o vai ajudar a concretizar este sonho... Depois de sabido o desejo, a coisa não é muito difícil. A bola está no campo do clube encarnado. Ou seja no estádio da Luz.
Bem o merece o Luís Miguel. É um verdadeiro study case de vivência, de humanidade, de maneira de ser, de calma, de atenção, enfim, de amor pela mãe. Que singularmente se chama Maria, numa época em que uma outra Maria também foi mãe, de acordo com a tradição cristã. Que transformou o solstício do Inverno no Natal.
O Luís Miguel Menoito deu-nos, portanto, a satisfação, até mesmo a alegria, de poder constatar que ainda há coisas boas neste desgraçado Mundo que continuamos a tentar destruir, mesmo sabendo que é o único que temos. Por ele fora, haverá muitíssimos casos como o deste catraio de dez anos de idade. Certamente que sim.
Mas este menino-herói é nosso, é do Barreiro e ao sabermos do que fez, do que faz e do que oxalá faça, sentimos todos nós os Portugueses o orgulho de o termos. Pelo menos, todos o devíamos ter. Porém, há sempre a velha estória do pano e da nódoa.
O BARREIRO está eufórico. Isto porque, num mar encapelado de desgraças, terramotos, roubos, assaltos, assassinatos, crises, austeridades, drogas, poluições, prostituições, compadrios, corrupções et aliud, de lá surgiu uma notícia – por incrível que pareça – boa. É pouco: óptima, excelente, fabulástica. E sem a terrível adversativa: mas,… Como despedida dum velho ano acelerando em cadeirinha de rodas para o forno crematório e como entrada do novo (que aliás já vem velho) deixa-nos felizes. O que cada vez é mais raro.
Publicou «A Bola» na sua edição de quinta-feira que Luís Miguel Menoito, com dez anos de idade, transformou-se no pequeno herói do cidade da ex-Siderurgia Nacional. E muito justamente. A sua mãe, Maria Menoito, de 51 anos, é epiléptica e quem a socorre quando tal é necessário, de há três anos a esta parte, é ele. Ou seja, segue atentamente a progenitora desde os sete anos. É obra.
Maria, por mor da doença, sofre crises convulsivas. A última aconteceu há um mês e quem a salvou foi o filho. Conta-se em poucas linhas. O Luís, apesar da sua tenra idade, não perdeu a calma, chamou o 112 e deu todas as informações ao INEM sobre o estado da mãe. Quando os bombeiros chegaram à rua de Maria e Luís, tinham uma criança de calções e camisola, ao frio, à espera da ambulância, a acenar-lhes, com uma calma que surpreendeu tudo e todos – continua o diário desportivo.
A história impressionou e comoveu toda a corporação. Luís vive apenas com a progenitora e quando ela passa a noite no hospital, a criança fica a cargo de uma instituição no Barreiro. A mãe Maria diz que às vezes é ele quem a alerta para tomar a medicação, orgulhosa do seu homem da casa. Na noite em que foram chamados, os bombeiros de serviço, Jorge Costa e Hugo Rodrigues, leram uma carta que os tocou. Nela, Maria indicava algumas das necessidades da família. E logo nasceu uma onda de solidariedade: arranjaram-se roupa e alimentos para os dois.
Aluno no terceiro ano, e naturalmente adora brincar, como qualquer criança. Gosta do Lego e do Homem-Aranha, mas a maior paixão do Luís... é o Benfica. É assim desde pequeno. É fã do Carlos Martins, que agora está a contas com o problema de saúde do filho, de todos conhecido. Mas, cheio de fair play confessa que também gosta do Ronaldo, do Figo, do Fábio Coentrão e do Aimar. Resumindo: adora todos os jogadores do seu clube da Luz, mas quanto ao treinador Jorge Jesus, acha que «é chato. Está sempre aos gritos!»
«A Bola» conclui a notícia revelando que o Luís menino pediu um presente ao Pai Natal. É só o que lhe falta: ir ao Estádio da Luz ver um jogo do Benfica pela primeira vez. Quem sabe se 2012 não será o ano em que alguém o vai ajudar a concretizar este sonho... Depois de sabido o desejo, a coisa não é muito difícil. A bola está no campo do clube encarnado. Ou seja no estádio da Luz.
Bem o merece o Luís Miguel. É um verdadeiro study case de vivência, de humanidade, de maneira de ser, de calma, de atenção, enfim, de amor pela mãe. Que singularmente se chama Maria, numa época em que uma outra Maria também foi mãe, de acordo com a tradição cristã. Que transformou o solstício do Inverno no Natal.
O Luís Miguel Menoito deu-nos, portanto, a satisfação, até mesmo a alegria, de poder constatar que ainda há coisas boas neste desgraçado Mundo que continuamos a tentar destruir, mesmo sabendo que é o único que temos. Por ele fora, haverá muitíssimos casos como o deste catraio de dez anos de idade. Certamente que sim.
Mas este menino-herói é nosso, é do Barreiro e ao sabermos do que fez, do que faz e do que oxalá faça, sentimos todos nós os Portugueses o orgulho de o termos. Pelo menos, todos o devíamos ter. Porém, há sempre a velha estória do pano e da nódoa.
Etiquetas: AF
5 Comments:
Foi no bom tempo das vacas gordas. Em 2012 ele bem pode chamar o 112 que sem massa para pagar ninguém lhe acudirá.
BOM ANO A TODOS
Amigo Antunes Ferreira, nada mais apropriado - à quadra - do que o seu texto sobre o menino do Barreiro. Só falta mesmo é lançar o repto para levar o menino ao estádio do Benfica, esse é um sonho fácil de concretizar; difícil, difícil e garantir-lhe o pão a saúde e a habitação com os sinais dos novos tempos que se avizinham!
Bom Ano Novo , entrem com os dois pé e usem andarilho para não caírem; pela minha parte farei o mesmo!
Creio que as tvs passaram a notícia, que condiz com a época. O Luís Filipe Vieira, espero, já deve ter providenciado a ida do miúdo à catedral. Quanto ao resto, receio que o catraio vá ter que emigrar um dia destes.
Nobilíssimo articulista Henrique Antunes Ferreira!
Sua brilhante pena deixou-me enternecido ao saber da história do infante Luís Miguel Menoito.
Tudo indica que os percalços que a vida lhe impôs contribuirá para que ele enfrente as atribuições e atribulações do cotidiano - com pertinácia - tornando-o hábil a exercer plenamente sua cidadania!!!
Desejo que o ano 2062 receba o Sr. Luis Miguel Menoito com muito vigor!!!!!
Caloroso abraço! Saudações esperançosas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP
AF
Gosto de histórias de meninos heróis.
Sabes que não gosto de padres mas, o Padre Américo é a excepção. Admiro-o muito. Ele tinha uma frase que nunca esqueci: "Não há rapazes maus". Não disse que havia heróis de palmo e meio. Afinal o mundo não está assim tão podre. Ainda há meninos que amam e cuidam da mãe.
Fez-me lembrar um personagem de um dos dois livros do Soeiro Pereira Gomes.
Crónica linda para o fim do Ano.
Bom Ano, para este e outros meninos. São eles que mais sofrem.
Maria
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