Silêncio
Por João Paulo Guerra
A GREVE geral começou com registos de paralisações nos transportes entre os 70 e os 90 por cento, segundo os sindicatos.
O Governo deixou de entrar no leilão das percentagens de paralisação. E compreende-se o silêncio. Mesmo opondo aos sindicatos percentagens de paralisação absurdas, o Governo alimentava uma polémica que perdia: o ridículo mata. E ao assumir a contestação aos dados sindicais sobre a adesão às greves, o Governo identificava-se, aos olhos da população, como a parte contrária daquela causa. Ou seja, como o fautor da pobreza e da exploração, mesmo que em favor de terceiros. A lógica do Governo em matéria de adesão a greves é agora a de deixar os sindicatos a falar sozinhos, o que é um engano.
A actuação do poder político conjuga-se nesse aspecto com a dos meios de comunicação que silenciam e manipulam a informação sobre o mundo do trabalho, em geral, e as lutas laborais, em particular. E em matéria de manipulação estamos conversados quando um jornal de referência publica um texto, ao qual dá a dignidade de notícia, denunciando alegados privilégios de trabalhadores de transportes em dia de greve na CP. A fonte do texto era, nem mais, nem menos, um "relatório interno que funciona como uma espécie de argumentário do Governo de resposta à greve", como explicou o próprio autor da prosa, apoiado pelo director de serviço, em resposta ao Provedor do Leitor do jornal em questão. Acresce que os visados nem sequer foram confrontados com a cábula governamental. De tudo isto nasceu uma prosa que o Provedor considerou "propaganda", que não jornalismo.
Este caso soube-se, por acção de um Provedor do Leitor. Das outras vezes, a manipulação embrulha-se em silêncio. "Silencio, já disse", berrava Bernarda Alba, sinistra personagem de Lorca.
«DE» de 23 Mar 12A GREVE geral começou com registos de paralisações nos transportes entre os 70 e os 90 por cento, segundo os sindicatos.
O Governo deixou de entrar no leilão das percentagens de paralisação. E compreende-se o silêncio. Mesmo opondo aos sindicatos percentagens de paralisação absurdas, o Governo alimentava uma polémica que perdia: o ridículo mata. E ao assumir a contestação aos dados sindicais sobre a adesão às greves, o Governo identificava-se, aos olhos da população, como a parte contrária daquela causa. Ou seja, como o fautor da pobreza e da exploração, mesmo que em favor de terceiros. A lógica do Governo em matéria de adesão a greves é agora a de deixar os sindicatos a falar sozinhos, o que é um engano.
A actuação do poder político conjuga-se nesse aspecto com a dos meios de comunicação que silenciam e manipulam a informação sobre o mundo do trabalho, em geral, e as lutas laborais, em particular. E em matéria de manipulação estamos conversados quando um jornal de referência publica um texto, ao qual dá a dignidade de notícia, denunciando alegados privilégios de trabalhadores de transportes em dia de greve na CP. A fonte do texto era, nem mais, nem menos, um "relatório interno que funciona como uma espécie de argumentário do Governo de resposta à greve", como explicou o próprio autor da prosa, apoiado pelo director de serviço, em resposta ao Provedor do Leitor do jornal em questão. Acresce que os visados nem sequer foram confrontados com a cábula governamental. De tudo isto nasceu uma prosa que o Provedor considerou "propaganda", que não jornalismo.
Este caso soube-se, por acção de um Provedor do Leitor. Das outras vezes, a manipulação embrulha-se em silêncio. "Silencio, já disse", berrava Bernarda Alba, sinistra personagem de Lorca.
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