Esperar é a nossa sina
Por Baptista-Bastos
AS DECLARAÇÕES dos ministros levam-nos a considerar que, antes da sua
auspiciosa aparição, estava tudo errado. Na administração, na saúde, na
educação, nas finanças, na gestão vulgar da res publica, a soma era um
conjunto de erros grosseiros. Pedro Passos Coelho e os seus surgiram
como virtuosos salvadores da pátria. Os "endireita o sítio", como se
dizia daqueles iluminados, tidos como pouco místicos e nada
existenciais, que actuavam de sarrafo e sem credo.
Será que os
governantes que os antecederam eram gente sem talento, sem grandeza e
desprovidos da mais leve centelha de competência? Com uma ligeireza que
raia a mais vil malevolência, quando os adversários estão no poder são
os piores que há, e eles, os que chegaram, irão melhorar
consideravelmente as coisas e a nossa vida.
A verdade é que, ainda
ontem, as notícias divulgadas (porque numerosas são as omitidas) dizem
que o défice aumenta; vai haver manigâncias para novos aumentos de
impostos; o número de desempregados atingirá níveis ainda mais
preocupantes do que os de agora, e manter-se-ão os subsídios de férias e
de Natal para um grupo seleccionado de inconfundíveis. O denominado
"desenvolvimento consistente", apregoado por esta clique no poder,
configura uma triste facécia, ainda por cima apoiada pelas frases amigas
do dr. Cavaco. E a perspectiva de alteração não é de molde a
regozijarmo-nos.
O conceito de Europa foi desagregado pelas
debilidades da própria utopia. O poder dos mais fortes impôs-se, uma vez
ainda, com punições e castigos (por exemplo à Grécia) que dissolvem
qualquer esperança de reconstrução das ideias generosas dos fundadores.
Melhorou tudo para os poderosos e piorou tudo para os mais fracos. O
capitalismo venceu e robusteceu-se; perderam todos aqueles que, um tanto
ingenuamente, pensavam ter alcançado um mundo equilibrado.
Os
vencedores estão por todo o lado. Infiltraram-se nas empresas, nas
companhias, no Estado. Estão nas faculdades, nas decisões, nos aparelhos
ideológicos de comando. E, habitualmente, não são os melhores. Dir-se-á
que sempre foi assim. Apenas presumíamos que, com a democracia, a
sociedade melhoraria na forma e no conteúdo. O «homem novo» foi um
embuste político, cultural e moral. Tudo piorou, até se chegar à
degradação actual. Passos Coelho e o seu Governo são uma consequência
directa, não um incidente à espera de acontecer. Fomos nós quem o
permitiu. O voto comporta estas surpresas e estas contradições. Mas é o
que há.
Não acredito, seriamente não acredito, que este Governo
caia antes de tempo. Aliás, o PS não me parece muito interessado em
antecipar a queda. A situação é tão grave, a estrutura social é tão
preocupante, que aos socialistas resta esperar. Esperar quê? Que o tempo
resolva o que, neste momento, os políticos não conseguem.
«DN» de 25 Jul 12 Etiquetas: BB
1 Comments:
Esperar ou... desesperar?
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