Jornal declara guerra à chuva
OS EDITORIAIS dos jornais costumam ser lugar para dar lições. Os políticos
devem ser honestos, os povos, ordeiros, e as grandes potências,
respeitadoras das mais frágeis.
Um bom editorialista deve ser canhoto,
segurando a caneta com a esquerda para que o indicador direito fique
livre para, espetado, indicar o caminho certo. Por isso a meteorologia
nunca é falada em editoriais. Como exigir que chova no nabal e haja sol
na eira? As nuvens, ou a falta delas, são livres e não sujeitas a lições
de moral. Daí a admirável (porque inusitada) campanha do jornal
britânico The Times, sempre centenário mas cada vez menos
conservador, que ontem exigiu em editorial: "Este não é, simplesmente, o
tempo que o país quer." Em jeito de: ou isto muda ou partimos para
manifestações...
A campanha do jornal pela melhoria do tempo começou há
uma semana e intensifica-se agora que se aproxima a abertura dos Jogos
Olímpicos de Londres. O Times começou por confiar no Dia de St.
Swithin, 15 de julho, do qual a tradição diz "se é seco, assim será por
40 dias." Choveu. O jornal não desistiu: "Onde o St. Swithin falhou, The Times
vai ter sucesso", escreveu-se ontem no editorial.
Aberto a negociações,
o jornal diz que admite que o mau tempo não acabe de repente, mas é
duro nos prazos: quando chegarem os jogos, acabaram as brincadeiras. E o
editorial remata: "Se houve uma primavera árabe, tem de haver um verão
britânico." Como não gostar de um povo assim?
«DN» de 18 Jul 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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