Sobre o défice do nosso falar
NÓS CONHECEMOS o hábito anglo-saxónico da declaração pública, lida e curta,
quando um político é apanhado de calças na mão. Lá está, esta expressão
"de calças na mão" é inimaginável numa declaração dessas: elas têm de
ser sucintas e claras, sem dar margem a que a intenção, que é minorar os
desgastes, tenha efeitos contrários. Discretos, é o que se pede do
declarante e da declaração. Admira-me que essa técnica da ponderação das
palavras não tenha sido esta semana importada pelo Governo. O seu
homem-forte, Miguel Relvas, está envolvido numa situação que eu, porque
não sou político nem tenho de importar hábitos anglo-saxónicos, posso
descrever assim: foi apanhado de calças na mão. Não me interessam agora
as peripécias da sua licenciatura - na última quinzena o mais falado
assunto nacional (daquele povo feliz e sem preocupações...) -, bastam-me
as consequências: não há restaurante em que não se oiça o cumprimento,
tão banal entre nós, "olá, doutor", a ser varrido com risinhos: "Homem,
não me ofenda!" Perante esse gozo espalhado - repito, não me importa se
justa ou injustamente - Relvas deveria só dizer coisa lida e pensada.
Não deveria dizer, como disse ontem: "Norteei a minha vida pela
simplicidade da procura do conhecimento permanente." Em circunstâncias
destas, nem o grande, simples e sábio, e que às vezes até se recolhe nas
celas do mosteiro de Singeverga, professor José Mattoso se podia
permitir tal frase.
«DN» de 13 Jul 12
2 Comments:
Se o homenzinho é basicamente um bronco, o que esperar dele?
Tenho no meu "mail" uma imagem de uma placa de mármore onde se diz o seguinte:
CAMARA MUNICIPAL DE LAGOA
(ALGARVE)
INAUGURADO A 16 DE JANEIRO DE 2004
POR SUA EXCELÊNCIA
O SECRETÁRIO DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO LOCAL
Dr Miguel Relvas
SENDO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL
Dr José Inácio Eduardo
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No espaço para o conteúdo, este mail apenas diz: Antes de ser já o era.
Se a imagem não tiver sido montada, então é uma imagem com conteúdo muito esclarecedor...
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