Uma tragédia grega e molhada
Por Ferreira Fernandes
OS JOGOS Olímpicos, além de espetáculo, afirmação de nacionalismos e
acordos de bastidores, são jogos. Este contra aquele. Duelo que as
técnicas modernas nos deixam ver ao pormenor e à exatidão.
Que bem nos
faz saber que este ganha àquele simplesmente porque é mais rápido, vai
mais alto ou é mais forte. Lava-nos de tantos estranhos ganhos dos
noticiários comuns...
Os jogos são histórias de heróis e nestes JO de
Londres temos um super-herói, Michael Phelps, embora se suspeite nele
uma certa decadência. O nadador americano chegou com 16 medalhas, das
quais 14 de ouro, e, tendo sete provas para correr, fortes
possibilidades de bater o recorde de medalhas, 18, da ginasta russa
Larisa Latynina, de há 50 anos. Phelps corre cego, com os óculos
escurecidos, como para dizer que o diálogo (o duelo) é só consigo. Mas
logo no primeiro dia de provas, sábado, apanhou uma tareia do seu
compatriota Ryan Lochte e, pior, ficou pela primeira vez fora do pódio
olímpico. Sem medalha. Ora ontem, na estafeta 4x100 livres, correndo na
segunda posição, Phelps cumpriu em tempo prodigioso e distanciou a
equipa francesa. Mas acabou por ver o seu colega de equipa Ryan Lochte a
desbaratar a vantagem e o primeiro lugar. Então, Phelps contente pela
sua 17.ª medalha, ou irritado por ela ser só de prata?
Como os jogos são
simples na forma mas complexos como uma tragédia antiga, Phelps deve
ter gostado do falhanço do seu companheiro Ryan Lochte.
«DN» de 30 Jul 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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