Perder tanto e encolher os ombros
Por Ferreira Fernandes
A
CRISE dos espanhóis vai desembocar em resgate financeiro mas não é por
já termos essa desgraça que me regozija vê-la estendida a outros. Mais,
até estou mais preocupado com eles do que connosco.
Há dias, quando a
seguir a outras regiões (Múrcia, Valência, Castilla-La Mancha...), a
Catalunha, asfixiada com a dívida mais alta de Espanha, pediu ao Governo
central para resolver o endividamento dela, logo vozes mais cínicas
perguntaram: "Ah, agora já não falam de referendo para a independência?"
Apressaram-se, esses críticos irónicos, não suspeitando da força que
tem, em momentos difíceis, o apelo da fuga para a frente: ontem, o
Parlamento catalão aprovou uma Fazenda pública catalã como única
autorizada a recolher impostos na região. Decretar, gerir, recolher,
sancionar, tudo relacionado com impostos na Catalunha deixará de estar
dependente do Governo central - um dos cortes mais radicais da ligação
com Madrid foi ontem encetado.
O mundo dos nossos vizinhos está
perigoso. Com a memória fresca dos Balcãs, talvez já há quem veja
guerras civis (justificando-as, haverá quem lhes chame étnicas), mas não
vou por aí. Provavelmente não haverá guerra, mas isso não basta para
não haver tragédia. A tragédia mais provável de Espanha é a indiferença
com que uns acolherão o facto de deixarem de ser do país de Don Quijote e
outros, do Parque Güell.
Perder e nem se dar conta. Pior, perder,
dar-se conta e nem se importar.
«DN» de 26 Jul 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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