25.7.12

A máquina de nos levar à certa

Por Ferreira Fernandes
PUBLICOU-SE ontem um estudo internacional da Fundación BBVA sobre cultura científica. Em onze países, EUA e dez europeus (Portugal não entrou), considerou-se a investigação como o motor do progresso. Mas os resultados são pouco credíveis, e não só por o BBVA ser banco e espanhol e, por estes dias, os bancos espanhóis terem é de se calar. 
A minha principal objeção vem da lista dos inventos da era moderna escolhida pelas 1500 pessoas ouvidas em cada país: à cabeça, medalha de ouro do maior dos inventos, está a máquina de lavar roupa! A ordem do pódio foi: a "lavadora" (como se diz em castelhano), a anestesia e a bicicleta. Esta, à frente do comboio, avião e automóvel. Como se os inquiridos, no dia em que precisarem de uma anestesia urgente, preferissem ver chegar uma bicicleta a uma ambulância. 
Mas o extraordinário é mesmo o lugar cimeiro da "lavadora". Todas as grandes invenções humanas, embora motor de progresso, já foram, até pela sua enormidade, causa de desgraças. Aviões (bombardeiros), pesticidas (desertificações), Internet (devassa da vida privada) trouxeram grandes desvantagens a reboque dos seus grandes méritos. Ora a máquina de lavar roupa só matou alguns gatos em experiências parvas. Pô-la à cabeça da civilização vale a felicidade, porque então a máquina de lavar não existia, de Beatriz Costa na aldeia da roupa branca. 
Decididamente, os estudos dos bancos querem parecer filmes ingénuos.
«DN» de 25 Jul 12

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