A "paciência" terá limites?
Por Manuel António Pina
EM POUCOS dias, já são dois os bispos a sair da sacristia, onde era
suposto deverem estar confinados a tratar em dedicação exclusiva de
assuntos divinos, para apontar o dedo acusador a César,
responsabilizando-o pela tragédia social que se abateu sobre o país,
cuja verdadeira dimensão a Igreja, através da sua obra assistencial,
conhece provavelmente melhor do que ninguém.
E se D. Januário Torgal Ferreira falou, referindo-se a alguns
membros do actual Governo, de "tipos que lutam pelos seus interesses,
têm o seu gangue, têm o seu clube e pressionam a comunicação social", o
arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, fala de políticos para quem "muitas
vezes e quase sempre, vale apenas o [seu] bem-estar pessoal ou, quando
muito, do seu grupo ou partido".
Tudo indica que o
primeiro-ministro se terá precipitado quando agradeceu ao bom povo
português a "paciência" com que vem suportando as medidas de austeridade
impostas ao país pelo seu Governo, a pretexto de uma crise de que são
responsáveis e principais beneficiários os "interesses", "gangues",
"grupos" e "partidos" de que falam os bispos.
Talvez tenha sido
justamente esse agradecimento que, por soar excessivamente a hipocrisia,
terá feito saltar finalmente a tampa, já não digo do bom (e, a crer no
primeiro-ministro, "piegas") povo português, mas do povo de Deus ou,
pelo menos, dos seus representantes.
«JN» de 25 Jul 12 Etiquetas: MAP
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