Notícias da frente (lado varandim)
Por Ferreira Fernandes
JULIAN Assange veio à portada aberta, ergueu o queixo como um cabo de guerra, olhou à volta, levantou o pé do microfone e falou durante dez minutos. A portada dava para um varandim que estava à altura de homem do passeio da rua. Assange nunca ultrapassou as ombreiras, nem com as mãos, que estavam como o discurso, mornas. Os polícias londrinos, cujos bonés nivelavam com os sapatos de Assange, nunca tentaram dar um saltinho e agarrar-lhe as bainhas das calças. Quer dizer, nem Assange ousou abrir mais uma discussão diplomática (o varandim é território britânico ou equatoriano?), nem a polícia ousou o saltinho.
A guerra Reino Unido-Equador mais parece alguns momentos da guerra de há quase cem anos, em dias calmos e sem tiros, quando das trincheiras só partiam insultos para o campo oposto: "Boche! O que é que a tua mulher estará a fazer neste momento?" Mas não será uma guerra longa, acaba no começo do próximo ano, o Presidente Rafael Correa tem eleições e depois delas o australiano deixa de interessar. Mas vamos ter várias aparições de Julian Assange.
Os sírios têm os bombardeamentos, nós temos as aparições de Assange.
Diz-se que os povos felizes não têm história. Os sírios são manifestamente um povo infeliz, acontece-lhes, cai-lhes, muita coisa em cima. Nós também somos infelizes, escusava era, além disso, de sermos ridículos com o que nos cai em cima.
DN de 20 Ago 12
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