Reinventar a retrete
Por Ferreira Fernandes
O ASSUNTO é delicado. Tanto, que os franceses lhe chamam "WC", pretenso
termo em inglês (de water-closet) que nenhum país anglófono usa, e os
ingleses dizem "toilet", vindo do francês "toilette"... - enfim, ambos
se escondem quando perguntam onde fica aquilo que, no fim do corredor, à
esquerda, os livra de aflições.
Vou falar de "casas de banho" (estão a
ver?, também usamos eufemismos). Diz o Chicago Tribune que Bill Gates
está interessado na, falemos claro, retrete. Na passada terça-feira,
Gates anunciou que vai investir 6,5 milhões de dólares no seu projeto "O
Desafio de Reinventar a Retrete".
No mundo há 2,6 mil milhões de
pessoas sem retrete e as nossas ficam-lhes demasiado caras em água e
tratamento de esgotos.
Em 1596, John Harrington, um poeta inglês,
inventou o autoclismo. O poeta chamou ao tratado que descrevia a sua
invenção "Novo Discurso sobre um Assunto Preso: Chamado a Metamorfose de
Ajax" (repito, nunca foi fácil falar disto). Depois, em 1775, outro
inglês, Alexander Cummings, um relojoeiro (o assunto sempre interessou
gente de profissões delicadas), inventou o sifão.
Ora, até agora, não
houve mais nenhum contributo notável à sanita. Por isso o desafio de
Bill Gates é extraordinário. Em francês antigo retrete chamava-se
"cabinet d'aisance" - de "gabinete", como por exemplo dos ministros, e
de "comodidade" que todos devem ter. Retomar e distribuir essa ideia
para a humanidade inteira é de um homem nobre.
«DN» de 16 Ago 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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