A dor de cabeça
Por Alice Vieira
NEM SABIA há quanto tempo não entrava naquele
jardim, perto da casa onde nascera. Ou antes: do sítio onde nascera, já que a
casa há muito se transformara num stand de automóveis.
Uma vez passou
por lá e ficou feita parva a olhar para a montra, pensando se o lugar da cama
da mãe seria ali onde então se exibia um Aston Martin em todo o seu esplendor,
ou, se calhar, lá mais para o fundo, onde se situava a secretária do vendedor.
Riu-se e o
vendedor, lá de dentro, franziu os olhos, certamente nunca devia ter visto
ninguém rir diante da montra, e ela desceu logo a rua, não fosse ele chegar à
porta e perguntar “deseja alguma coisa?”, e ela “nasci onde o senhor está
sentado.” (...)
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