25.10.12

O Super-Homem e a crise dos jornais

Por Ferreira Fernandes
ACONTECEU, dizem as notícias, que o Super-Homem se despediu do seu jornal. Não exatamente ele, ocupado que está a arrancar a mocinha dos braços do bandido, mas ele antes de mudar de roupa. 
Toda a gente culta sabe que o super-herói, na vida real, é um tímido jornalista chamado Clark Kent, que tira os óculos e a gravata para envergar o célebre "S" ao peito. Pois esse, o tal Clark, desde ontem deixou de trabalhar no seu jornal, o Daily Planet. A notícia em si é uma tristeza, uma banda desenhada deve voar, como as águias e os imigrantes vindos de Krypton, nos altos territórios da imaginação dos garotos de oito anos e não baixar para comer no nosso dia a dia - e está bom de ver que esse autodespedimento é para colar o Super-Homem à atual crise da imprensa mundial. 
Por cá, nos jornais portugueses, ainda mais agónicos, logo se epilogou sobre a justificação de Clark Kent. Isso de um jornalista ter um dever com "a verdade", como ele diz, que não se compagina com o seu jornal ser "comprado por um conglomerado", pareceu assunto local. Curiosa justificação, digo eu. 
Desde logo, porque Kent entrou para os jornais ainda no tempo do citizen William R. Hearst, mais patrão metediço nunca houve. 
Segundo, porque a verdade que a cidade de Clark Kent queria saber, ele sempre a escondeu: quem era o Super-Homem? 
E, terceiro, porque há um condicionante maior para o jornalista que o seu patrão: o que o jornalista quer e deve fazer de si. 
«DN» de 25 Out 12

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1 Comments:

Blogger Francisco Castelo Branco said...

pena que jornalistas com CK estejam a acabar. qualquer dia como é tudo interactivo nem sabemos quem escreve a peça

26 de outubro de 2012 às 19:47  

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