23.10.12

Rir ainda não paga imposto

Por Joaquim Letria 
NA MANIFESTAÇÃO de 15 de Setembro, contra a austeridade do Governo e da troika, houve diversos sinais de humor, criatividade e boa disposição de que nos podemos orgulhar. São símbolos do melhor da nossa identidade colectiva e não deixam de nos acompanhar nos períodos mais difíceis e controversos. Infelizmente, os nossos humoristas profissionais perderam a graça toda, entregues a encomendas de longa duração, e os nossos jornalistas têm muitas e boas razões para se preocuparem com outras coisas, acabando nós, assim, por só darmos por aquilo que nós próprios vemos.
O melhor cartaz da manifestação de 15 de Setembro era o que não queria que o ministro Gaspar transformasse o nosso País num “irremediável POORTUGAL”. Notáveis a graça, o poder de síntese e o efeito que a revista britânica “The Economist” teve a distanciação suficiente, o profissionalismo e o golpe de asa de recuperar e de destacar, atribuindo-lhe acertadamente a sua autoria “à rua”.
Graciosamente, o autor do artigo sobre Portugal e a sua dramática situação económica e financeira não resiste a comparar este “rebranding” popular à criação do ministério do Dr. Manuel Pinho, ministro de Sócrates, quando fez uma campanha internacional para vender o “ALLGARVE”.
Mas havia outros cartazes notáveis nas ruas de Lisboa, durante a manifestação de 15 de Setembro. Um deles, de que não me esquecerei, explicava: “Este Governo é como o meu marido. Não sabe o caminho, mas não pára para perguntar”.
Esta capacidade de humor recorda-me algumas outras frases que em 74-75, em pleno PREC, iam fazendo rir a “revolução”. Como a inscrição na Avenida 5 de Outubro que garantia que “tudo na vida tem um fim, menos o chouriço que tem dois.” Ou a Igreja dos Mártires apresentando numa porta “Entrada dos Leões” e, noutra, “Entrada dos Cristãos”.
E o humor popular tem sempre algo de interactivo. Vejam a frase escrita sobre o símbolo católico do peixe “Cristo vem aí!” a que alguém respondeu, com outra tinta e caligrafia “Venho já”!
Poderíamos ficar aqui a recordar muitas outras expressões do nosso genuíno humor popular. Tanto, que em vez disso atrevo-me a pedir ao SORUMBÁTICO que solicite aos seus contribuidores e leitores para aqui enviarem frases destas de que se recordem, a fim de todos nós podermos rir-nos um pouco, apesar da crise! Há dias, um jovem enfermeiro que teve de emigrar pediu ao Presidente que não aprovasse uma lei com taxas sobre as lágrimas e a saudade. Eu, aqui, não peço mais nada a ninguém. Lembro só que, por enquanto, rir não paga imposto!

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Pois, por enquanto, rir ainda não paga imposto. Mas é melhor dizermos isto baixinho...

23 de outubro de 2012 às 21:21  

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