1.3.13

Bento XVI sobe aos céus de helicóptero

Por Ferreira Fernandes
DESDE ontem é sede vacante. O brasão do papado, duas chaves do céu entrecruzadas, uma de ouro e outra de prata, por estes dias ganha um símbolo especial: está coberto por um guarda-chuva. Um simples ombrellino para proteger a cristandade sem líder... Ontem foi dia como não houve em 700 anos, um Papa parte sem morrer. Despediu-se dos cardeais na Sala Clementina, no pátio de São Dâmaso o seu motorista ajoelhou-se e beijou-lhe a mão e, já em Castel Gandolfo, Bento XVI disse à multidão a última palavra que vamos ouvir dele até haver novo Papa: "Buonanotte!" 
Nos tempos contemporâneos, Pio XII e Paulo VI morreram em Castel Gandolfo, mas morreram papas. Deste dia de ontem a imagem que mais marcou foi a do helicóptero branco, deixando o Vaticano. Às 17h08m, as hélices e os rotores não conseguem abafar os sinos de Roma, mas ganhando altitude o helicóptero impõe-se à Cidade Eterna. 
Em 1960, Fellini pôs um helicóptero a abrir o filme La Dolce Vita, transportando um Cristo Redentor enorme e suspenso. A viagem era inversa, helicóptero e Cristo rumavam para o Vaticano. Atrás, noutro helicóptero, seguia um jornalista infeliz e perdido (Marcello Mastroianni). Às jovens em bikini que das piscinas dos terraços lhe perguntavam pelo mistério do bamboleante Cristo em helicóptero, Marcello pedia-lhes por sinais os números de telefone. 
Agravou-se o desvario de Itália, agora sem Papa nem Governo, procurando a rolha e não encontrando.
«DN» de 1 Mar 13

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