Dia da Saída de Cavaco Silva
Por Ferreira Fernandes
UM MÊS e uma semana depois de ter estado na abertura do ano judicial, a 30
de janeiro, Cavaco Silva voltou ontem a sair do Palácio de Belém e foi
visitar uma fábrica de moagem. De certa forma, ele partilha com o Rei
Bhumibol um recorde: o tailandês é o chefe de Estado mais duradouro,
reina desde 1946; já Cavaco é o de maior ausência, o mês de fevereiro
passou-se inteirinho sem ele. Apesar disso, o Presidente mostrou que o
País continua a interessá-lo vivamente. Para o provar, usou uma
sinédoque, figura de estilo que toma a parte pelo todo, e falou do
Portugal que lhe é mais querido: "Ninguém tem a experiência que eu
tenho." Referia-se aos seus dez anos de primeiro-ministro e aos sete que
já vai na Presidência. Evidentemente os críticos do costume vão
conferir os números e lembrar que o mês passado não conta. Também ontem,
o próprio lembrou que ele trabalha "10 ou até 12 horas por dia" e
"muitas horas ao sábado e ao domingo." São informações importantes e
poderão ser comparadas na próxima saída de Cavaco Silva, lá para meados
de abril. Saberemos, então, se o índice de horas presidenciais
trabalhadas aumentou e talvez Portugal encontre aí o nicho de propaganda
estatística que lhe tem sido negada nos outros sectores (esperemos que a
troika aceite o índice). Por outro lado, o ministro da Economia poderia
fazer uma parceria com a Presidência e criar o Dia da Saída de Cavaco
Silva. A Rainha Isabel tem o Trooping the Colour, dia em que sai do
Palácio de Buckingham para passar em revista os regimentos. Por cá,
poder-se-ia poupar na pompa e carruagens e a saída de Cavaco seria só
dedicada ao discurso em que falaria das horas que trabalha em casa. O
exemplo inglês seria ótimo porque o Trooping the Colour comemora o
aniversário da Rainha, e assim só teríamos uma saída anual do Palácio de
Belém: segundo muitos analistas, o contributo de Cavaco nunca é tão bom
como quando está ausente.
«DN» de 7 Mar 13Etiquetas: autor convidado, F.F
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