«Dito & Feito»
José António Lima
HÁ MAIS de um ano, desde Novembro de 2011, que o Governo e o seu
secretário de Estado da Saúde, Leal da Costa, vinham anunciando que
estava quase pronta a legislação para proibir a venda de bebidas
alcoólicas a menores de 18 anos.
«A ideia é prevenir o abuso do
álcool entre os adolescentes porque o risco de dependência futura é
tanto maior quanto mais cedo se começar a beber», afiançava o secretário
de Estado. E os últimos dados indicam que 68% dos alunos do ensino
secundário consomem bebidas alcoólicas e que 51% bebem cerveja – números
preocupantes.
Mas eis que, num golpe de mágica que lançou a
surpresa geral, o Governo, afinal, apenas proíbe a ingestão de bebidas
espirituosas a menores de 18 anos, mantendo legal o consumo de cerveja e
vinho para maiores de 16 anos. Porquê esta pirueta de última hora? Ao
que se sabe por imposição de Paulo Portas e do CDS, que bloquearam
várias vezes a aprovação da lei em Conselho de Ministros e que são
particularmente sensíveis às pressões do lóbi cervejeiro e do empresário
Pires de Lima, presidente da Associação de Produtores de Cerveja, do
Conselho Nacional do CDS e o mais dilecto conselheiro de Portas.
Pires
de Lima fez campanha contra o que designou de «proposta
proibicionista», enquanto a bancada parlamentar do CDS considerava a lei
«uma restrição das liberdades gerais». Resultado: o Governo recuou em
toda a linha, impôs uma divisão ridícula entre álcool bom (o da cerveja e
do vinho) e álcool mau (o das bebidas espirituosas), obrigando ainda o
desacreditado secretário de Estado a meter os pés pelas mãos e a alegar
que «esta medida elimina em 50% o consumo de álcool em jovens». E, podia
acrescentar, mantém noutros 50% o consumo de álcool pelos jovens...
Este
recuo na legislação que visa limitar o consumo de álcool entre os
jovens veio, aliás, coincidir com a súbita viragem de discurso do
ministro Vítor Gaspar, pedindo mais tempo para reduzir o défice até 2,5%
e afirmando que a recessão do país em 2013 será o dobro do previsto.
Dois dias depois, Passos Coelho veio dizer que «não é possível falar de
recessão quando a perspectiva que temos é de que a recuperação da
actividade económica começará a notar-se algures durante o ano de 2013».
Começará mesmo? Algures? Ou, tal como a lei do álcool , isso só é para
ser levado 50% a sério?
«SOL» de 1 Mar 13 Etiquetas: autor convidado, JAL
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