A confiança é que está em falta
Por Joaquim Letria
NAS ACTIVIDADES
financeira e económica há um elemento essencial: a confiança. Natural e
próprio de quem tem de confiar, muitas vezes, o valor do trabalho duma
vida e o futuro de seus filhos a terceiros que não precisariam de ser
mais do que pessoas estranhas.
O resgate a Chipre, as patacoadas do presidente do Eurogrupo, as argoladas do sr. Hollande, as birras do mister
Cameron e a insensibilidade da sra. Merkel, a matreirice do BCE, a
impreparação do novo FMI, tudo isto aliado às novas e desconhecidas
colheitas de banqueiros e bancários, fez perder o mínimo necessário de
confiança no sistema.
A
estas questões reais podemos juntar a incompetência dos técnicos e a
irresponsabilidade dos políticos: ninguém pode hoje confiar em ninguém,
sujeitos como estamos ao “vale tudo” e à “banha da cobra” que nos
impingem a todo o momento.
Chipre
veio recordar-nos e deixar bem presente a incerteza do euro. A moeda
única não parece justificar a enganadora solidez com que se apresenta a
todos os que a vêem como uma alternativa credível ao dólar e a outras
moedas europeias que persistem.
A
banca, instituição outrora confiável, está hoje assaltada por duvidosos
desconhecidos, delegados dos partidos, comandada por marqueteiros de
pacotilha em quem muito dificilmente se pode confiar.
A “União monetária” também já foi chão que deu uva. Hoje, o euro parece
mais sólido na Alemanha e na Holanda do que em Portugal ou na Itália,
tal como ali os depósitos se perfilam mais seguros do que aqui.
A
verdade é que muitos já não confiam as suas economias à banca e alguns
também já não dormem descansados com o dinheiro no colchão, receosos das
manigâncias e do terrorismo fiscal. É uma pena ter passado a haver tão pouca gente em quem se possa confiar...
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