15.4.13

Confiança garantida

Por Joaquim Letria
TENHO um amigo que vive no prédio dum importante ministro. Todos os dias, pelas 7 da manhã, o meu amigo quando sai para passear o cão encontra no elevador a mulher do ministro, que vai correr. Todos eles figuras públicas e conhecidos de longa data, cumprimentam-se amistosamente. Mas o meu amigo não resiste a contar-me o que a mulher do ministro responde à sua pergunta de “então, vocês estão bem?”
Com um sorriso bem disposto e com a voz firme de quem sabe do que está a falar, a senhora responde invariavelmente: 
“Então não havíamos de estar! Claro que estamos bem, a afundar-nos alegremente”! O meu amigo distrai-se com o cão e a senhora põe os auscultadores antes de começar o seu “jogging”.
Mas quando o meu amigo regressa para tomar banho, ou almoça comigo, não resiste a rebobinar e a pensar que se um ministro essencial como aquele acha que o país se está a afundar todos os dias, é porque isso é mesmo verdade.
Quando o meu amigo me contou a história pela primeira vez, num tom de grande segredo, eu pensei que a senhora era uma irresponsável e que o marido não seria melhor. Mas agora, depois de ler que Christine Lagarde, directora do FMI, disse que até ao fim do ano haverá bancos que vão fechar em Portugal, penso que estão todos bem uns para os outros e que nós é que estamos entregues aos bichos, com gente desta a dar-nos confiança garantida na competência de quem nos governa e no futuro que nos vai acolher.

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