18.4.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
NO MOMENTO em que o BCE e o FMI fazem saber que não autorizarão o desembolso da próxima tranche de 2.100 milhões de euros de ajuda a Portugal, enquanto o Governo não apresentar soluções alternativas às medidas chumbadas pelo Tribunal Constitucional, o que sugere o líder do PS?
Na sua pomposa declaração de segunda-feira, António José Seguro veio propor a «renegociação dos juros» a pagar à troika e o «reembolso dos lucros obtidos pelo BCE na compra de dívida soberana». Como se Portugal estivesse em posição de impor alguma destas exigências lunáticas aos seus, até agora, pacientes credores. Não está mal vindo de alguém, como Seguro, que tem esbarrado numa indulgente indiferença dos decisores internacionais – do FMI ao BCE – aos seus pedidos de atenção e às cartas que diz ter escrito, mas se vem depois a apurar que não foram enviadas.
Seguro sabe que está a pedir uma impossibilidade e a vender uma ilusão. Mas insiste, com a crença de que poucos o levarão a sério e ninguém se dará ao trabalho de contrariar tais fantasias. Pior ainda. No momento em que a urgência do país é baixar a despesa do Estado, para reduzir o défice e a dívida, Seguro vem propor o aumento do salário mínimo e das pensões mais baixas, o alargamento dos apoios aos desempregados ou a diminuição do IVA da restauração – ou seja, aumentar a despesa pública e em simultâneo contrair a receita. Parece viver noutro planeta.
Seguro, reconheça-se, não tem a vida fácil. De um lado, tem Mário Soares a gritar que «este Governo está moribundo» e Manuel Alegre a entoar em coro que «este Governo não tem condições para governar», quais velhos dos Marretas do PS. Do outro lado, tem o regressado José Sócrates, no seu tempo de antena televisivo, a fazer ajustes de contas políticos e pessoais, ultrapassando a liderança do PS em contundência verbal.
Não admira que Seguro, entalado entre tais forças de pressão, venha radicalizando artificialmente o discurso e repetindo a exigência de eleições antecipadas. Que mergulhariam o país num mais que certo caos político. Para já, terá que se contentar com as disputadas e concorridas eleições directas no PS, este fim-de-semana. E com Soares, Alegre e Sócrates. Além de Ferreira Leite e Pacheco Pereira, claro. 
«SOL» de 12 Abr 13

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