«Dito & Feito»
Por José António Lima
NO MOMENTO em que o BCE e o FMI fazem saber que não autorizarão o
desembolso da próxima tranche de 2.100 milhões de euros de ajuda a
Portugal, enquanto o Governo não apresentar soluções alternativas às
medidas chumbadas pelo Tribunal Constitucional, o que sugere o líder do
PS?
Na sua pomposa declaração de segunda-feira, António José Seguro
veio propor a «renegociação dos juros» a pagar à troika e o «reembolso
dos lucros obtidos pelo BCE na compra de dívida soberana». Como se
Portugal estivesse em posição de impor alguma destas exigências
lunáticas aos seus, até agora, pacientes credores. Não está mal vindo de
alguém, como Seguro, que tem esbarrado numa indulgente indiferença dos
decisores internacionais – do FMI ao BCE – aos seus pedidos de atenção e
às cartas que diz ter escrito, mas se vem depois a apurar que não foram
enviadas.
Seguro sabe que está a pedir uma impossibilidade e a
vender uma ilusão. Mas insiste, com a crença de que poucos o levarão a
sério e ninguém se dará ao trabalho de contrariar tais fantasias. Pior
ainda. No momento em que a urgência do país é baixar a despesa do
Estado, para reduzir o défice e a dívida, Seguro vem propor o aumento do
salário mínimo e das pensões mais baixas, o alargamento dos apoios aos
desempregados ou a diminuição do IVA da restauração – ou seja, aumentar a
despesa pública e em simultâneo contrair a receita. Parece viver noutro
planeta.
Seguro, reconheça-se, não tem a vida fácil. De um lado,
tem Mário Soares a gritar que «este Governo está moribundo» e Manuel
Alegre a entoar em coro que «este Governo não tem condições para
governar», quais velhos dos Marretas do PS. Do outro lado, tem o
regressado José Sócrates, no seu tempo de antena televisivo, a fazer
ajustes de contas políticos e pessoais, ultrapassando a liderança do PS
em contundência verbal.
Não admira que Seguro, entalado entre tais
forças de pressão, venha radicalizando artificialmente o discurso e
repetindo a exigência de eleições antecipadas. Que mergulhariam o país
num mais que certo caos político. Para já, terá que se contentar com as
disputadas e concorridas eleições directas no PS, este fim-de-semana. E
com Soares, Alegre e Sócrates. Além de Ferreira Leite e Pacheco Pereira,
claro.
«SOL» de 12 Abr 13 Etiquetas: autor convidado, JAL
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