Os heróis sprinters da maratona trágica
Por Ferreira Fernandes
APRPRIANDO-SE do único cowboy que não é seu, os Estados Unidos, tal como Lucky Luke, disparam mais rápido que a sua própria sombra. Sendo a sombra feita de explosões, eles disparam heróis ainda antes da nuvem de pó pousar.
Incomoda ver os bons jornais americanos à cata dos heróis instantâneos que irão alimentar os próximos sucessos de Hollywood. Depois das sagas de bombeiros nova-iorquinos, vamos ter os maratonistas, ou assistentes da maratona, bostonianos. É o homem de chapéu de cowboy que fez garrotes e foi muito solicitado para entrevistas com a bandeira americana ensanguentada - e que veio a revelar-se um manancial para o sorvedouro dos jornais (teve um filho morto no Iraque, teve outro que se suicidou e ele próprio tentou imolar-se pelo fogo). É o antigo jogador da equipa de futebol americano que se imortalizou numa foto levando uma mulher ao colo até à ambulância. É o "ícone" (é assim que já lhe chamam), o velhinho maratonista, 78 anos, que tropeçou com o sopro da primeira bomba... Gente que devia ser considerada o que é (e que já é enorme): estavam no lugar de uma tragédia.
Dramatizar uma tragédia com heróis é não entender a dimensão da coisa. E a coisa maior é a simplicidade para cometer o horror: duas panelas de pressão, pregos, pólvora preta, um relógio de ignição, no sítio certo, e é notícia em todo o Mundo. Sendo assim, seria mais prudente não precipitar a procura de heróis. Dá ideias a doidos.
«DN» de 17 Abr 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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