Confiança garantida
Por Joaquim Letria
TENHO
um amigo que vive no prédio dum importante ministro. Todos os dias,
pelas 7 da manhã, o meu amigo quando sai para passear o cão encontra no
elevador a mulher do ministro, que vai correr. Todos eles figuras
públicas e conhecidos de longa data, cumprimentam-se amistosamente. Mas o
meu amigo não resiste a contar-me o que a mulher do ministro responde à
sua pergunta de “então, vocês estão bem?”
Com um sorriso bem disposto e com a voz firme de quem sabe do que está a falar, a senhora responde invariavelmente:
“Então não havíamos de estar! Claro que estamos bem, a afundar-nos alegremente”!
O meu amigo distrai-se com o cão e a senhora põe os auscultadores antes de começar o seu “jogging”.
Mas
quando o meu amigo regressa para tomar banho, ou almoça comigo, não
resiste a rebobinar e a pensar que se um ministro essencial como aquele
acha que o país se está a afundar todos os dias, é porque isso é mesmo
verdade.
Quando
o meu amigo me contou a história pela primeira vez, num tom de grande
segredo, eu pensei que a senhora era uma irresponsável e que o marido
não seria melhor. Mas agora, depois de ler que Christine Lagarde,
directora do FMI, disse que até ao fim do ano haverá bancos que vão
fechar em Portugal, penso que estão todos bem uns para os outros e que
nós é que estamos entregues aos bichos, com gente desta a dar-nos
confiança garantida na competência de quem nos governa e no futuro que
nos vai acolher.
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