Trinta anos de avanço e, no entanto...
Por Ferreira Fernandes
TOMADA da Bastilha? Ora, ora, o 14 de Julho já era, agora é o 15 de Abril e o striptease dos políticos franceses.
Hoje, ao fim do dia, todo o cidadão francês já pode ir à Internet, ao portal do Governo, e saltar do castelo do ministro da Educação para o pacote de ações da Total da ministra da Justiça. Se é que os há, tais bens, até agora legitimamente escondidos do povo. Mas, a partir de hoje, a exposição pública da riqueza dos ministros é obrigatória (e em breve o será para os deputados). O ministro do Trabalho, Michel Sapin, queixa-se mas compreende: "É uma brutalidade, mas responde à violência de um ministro que devia perseguir quem se mete em fraudes e, foi-se a ver, ele próprio..." Falava do ex-colega, Jérôme Cahuzac, que enquanto legislava austeridade para os outros tinha contas escondidas no estrangeiro.
Para hoje, então, o suspense: quem são os ministros mais ricos? Todos ansiando, na declaração do património, passar por nouveaux pauvres. É que a França é a pátria de Proudhon, aquele filósofo anarquista que decretou: "Toda a propriedade é um roubo"...
Hoje era talvez um bom dia para alguém, deste Portugal do tal extremo Sul trafulha, lembrar à francesa Lagarde, do FMI: "Sabe, essa inovação francesa, a declaração do património dos eleitos e o direito de todos a conhecerem, temo-la desde 1983..." O pior é se ela pergunta a razão, então, para não sermos tão transparentes quanto temos direito.
«DN» de 15 Abr 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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