E se Obama fosse antes ao cinema!?
Por Joaquim Letria
QUANDO li a frase de Obama, achei aquilo que ele disse um exagero. Mas como gosto muito da senhora, fiquei todo contente, e elogiei o discurso presidencial tanto como aquele que lhe escreveram para ele dizer no Egipto há uns anos, que toda a gente gostou muito, eu incluído.
Demorei algum tempo a perceber que quando Obama disse, desta vez, que “O MUNDO PERDEU UMA DAS GRANDES ADVOGADAS DA LIBERDADE”, não se estava a referir à minha querida Sarita Montiel, mas a Margareth Thatcher, morta no mesmo dia, deixando entre os órfãos, pelos vistos, o “Tory” Blair e o Barack Obama, a par do Gorbatchev e do Lech Walesa.
Tenho amigos em Londres que sofreram com a morte da rainha do Alzheimer, porque são conservadores e admiram aquela que foi a primeira mulher a chefiar um governo no Reino Unido, o que eu respeito. Mas também tenho amigos que foram a Brixton, às festas de alegria com que se comemorou na Grã-Bretanha o desaparecimento da “Bruxa”. Gosto da sinceridade e recusa de hipocrisia, também como foram as festas dos mineiros do Norte, a quem a baronesa tanto prejudicou, como por certo na Argentina se terá festejado o desaparecimento da madrasta das Malvinas.
Eu, por mim, marimbo-me na baronesa, um Gaspar de saias e com substância que desgraçou milhões na Grã Bretanha e lançou a Europa nesta crise do capitalismo em que ainda estrebuchamos e recolho-me ao meu luto pela Sarita, a rainha do “couplé”, a madrilena de olhos ardentes e voz quente que nos anos 50-60 provocava erecções aos jovens da minha geração a cantar “besame, besame mucho”.
Sarita fez mais de 50 filmes. Tornou-se mundialmente famosa com Vera Cruz e filmou com Gary Cooper, Burt Lancaster e outras grandes vedetas. Estreara-se em 1944,em “Te quiero para mi” e até 1974 rodou meia centena de filmes, ainda que sempre entregue à música e sempre inebriante com as suas canções sensuais, como em “Violetera” e muitas outras películas que em Portugal provocavam enchentes durante meses, em grandes salas de cinema como “Eden”, “Condes” e “Odeon”, hoje todas elas desaparecidas.
Casada quatro vezes, senhora de grande beleza voluptuosa e não escondendo uma grande sensualidade, Sara Montiel foi uma advogada da liberdade maior que a baronesa que foi amiga do ditador Pinochet.
O ministro espanhol da Cultura,José Ignacio Wert,disse que Sarita era “um ícone do cinema espanhol e ibero-americano, capaz de encher o grande écran como ninguém”. Estou plenamente de acordo, e ainda acho que Sarita não encheu as ruas de Londres de sem-abrigo nem prejudicou ninguém, como a Thatcher. Talvez o ministro Wert possa mandar dois DVDs ao Obama… um sobre uma e outro acerca da outra…
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