Espanha sem trunfos e rei fora do baralho
Por Joaquim Letria
A POPULARIDADE
do rei de Espanha, Juan Carlos, está em queda livre, principalmente
junto dos jovens, em consequência de diversos escândalos, em particular
daquele que envolve corrupção e que faz estremecer as fundações da
monarquia espanhola, ainda que o príncipe Felipe pareça estar a ser
poupado - revelou uma sondagem realizada nos últimos dias e publicada no
passado domingo.
A
sondagem, no entanto, foi realizada antes dum juiz de instrução ter
indiciado a infanta Cristina, segunda filha do rei, no caso de corrupção
que tem como principal protagonista o seu marido, Iñaki Urdangarin. 53%
dos interrogados na sondagem manifestaram-se contra o modo como o rei
exerce as suas funções e apenas 42% estão a favor. O príncipe das
Astúrias, Felipe, de 45 anos de idade, recebeu pareceres favoráveis de
61% dos inquiridos.
A
queda de popularidade do rei é particularmente acentuada na faixa
etária dos mais jovens, dos 18 aos 34 anos, cujos votos desfavoráveis
são 41% mais numerosos do que os favoráveis. Designado por Franco como
seu herdeiro político, Juan Carlos foi entronizado dois dias depois da
morte do ditador e conduziu, com sucesso, a transição política pacífica
da Espanha da ditadura para a democracia. Esta página da História parece
ser ignorada pelos eleitores mais jovens.
A
imagem do rei Juan Carlos começou a degradar-se aceleradamente na
primavera de 2012, após o monarca ter participado numa caçada aos
elefantes no Botswana, que fez com que ele tivesse de apresentar um
pedido público de desculpas à nação depois de chocar a Espanha, minada
pela grave crise económica e com uma percentagem de desemprego da ordem
dos 26%.
O
inquérito judicial que visa Iñaki Urdangarin, marido da princesa
Cristina suspeito de ter desviado milhões de euros de dinheiro público e
a indiciação da princesa nesse mesmo processo, mergulhou a monarquia
espanhola numa crise sem precedentes e fez crescer rumores sobre a
possibilidade do rei abdicar em favor de seu filho.
Esta
sondagem, conhecida no início desta semana, revela aquilo que os
espanhóis pensam e foi realizada no curso do mês de Março, auscultando
as opiniões de 2400 inquiridos que permitiram concluir pelo desprezo
geral dos espanhóis pelo conjunto das suas instituições. Aos escândalos
da família real, juntam-se diferentes casos de corrupção que
desacreditam a generalidade do mundo político.
91% dos inquiridos desaprovam a actividade dos partidos políticos e
apenas 7% aprovam a forma dos partidos assumirem o seu papel na vida
nacional. Somente 19% se manifestou favorável ao governo do PP liderado
por Mariano Rajoy. Uma sondagem paralela a esta publicada pelo diário
“El País” mostra que os dois grandes partidos da Espanha, o Partido
Popular (P.P.) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), juntos,
não atingem um total de 50% da intenção de votos. O PP, vencedor das
eleições de Novembro de 2011 com uma maioria esmagadora, receberia
apenas 24,5% dos votos e os socialistas 23%, se as eleições fossem
agora.
Com
a Espanha a destrunfar e o rei fora do baralho, o futuro depois da
crise será ainda mais difícil para todos os povos ibéricos, quer sejam
hoje parte integrante de Castela, ou simples vizinhos, como nós.
Etiquetas: JL
2 Comments:
Este texto é uma delícia, por ser uma perfeição no uso da língua, no conteúdo, na clareza e na harmonia da construção.
A começar pelo título e a terminar no último parágrafo.
Isto é dizer o óbvio?
- Claro que é.
Mas apeteceu-me dizê-lo.
Resposta de JL:
«Sempre fico envergonhado com os amáveis comentários que me dirige a propósito de certos textos.Foi o caso,desta vez.Agora que lê-lo sabe bem e que ninguém precisa de saber que sinto vaidade e prazer que me pagam o gozo de ir escrevendo estas coisas, também é verdade.É óbvio?Será.Mas fico a dever-lhe mais esta sua gentileza.
Seu,
Joaquim Letria»
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