10.4.13

Espanha sem trunfos e rei fora do baralho

Por Joaquim Letria
A POPULARIDADE do rei de Espanha, Juan Carlos, está em queda livre, principalmente junto dos jovens, em consequência de diversos escândalos, em particular daquele que envolve corrupção e que faz estremecer as fundações da monarquia espanhola, ainda que o príncipe Felipe pareça estar a ser poupado - revelou uma sondagem realizada nos últimos dias e publicada no passado domingo.
A sondagem, no entanto, foi realizada antes dum juiz de instrução ter indiciado a infanta Cristina, segunda filha do rei, no caso de corrupção que tem como principal protagonista o seu marido, Iñaki Urdangarin. 53% dos interrogados na sondagem manifestaram-se contra o modo como o rei exerce as suas funções e apenas 42% estão a favor. O príncipe das Astúrias, Felipe, de 45 anos de idade, recebeu pareceres favoráveis de 61% dos inquiridos. 
A queda de popularidade do rei é particularmente acentuada na faixa etária dos mais jovens, dos 18 aos 34 anos, cujos votos desfavoráveis são 41% mais numerosos do que os favoráveis. Designado por Franco como seu herdeiro político, Juan Carlos foi entronizado dois dias depois da morte do ditador e conduziu, com sucesso, a transição política pacífica da Espanha da ditadura para a democracia. Esta página da História parece ser ignorada pelos eleitores mais jovens.
A imagem do rei Juan Carlos começou a degradar-se aceleradamente na primavera de 2012, após o monarca ter participado numa caçada aos elefantes no Botswana, que fez com que ele tivesse de apresentar um pedido público de desculpas à nação depois de chocar a Espanha, minada pela grave crise económica e com uma percentagem de desemprego da ordem dos 26%. 
O inquérito judicial que visa Iñaki Urdangarin, marido da princesa Cristina suspeito de ter desviado milhões de euros de dinheiro público e a indiciação da princesa nesse mesmo processo, mergulhou a monarquia espanhola numa crise sem precedentes e fez crescer rumores sobre a possibilidade do rei abdicar em favor de seu filho. 
Esta sondagem, conhecida no início desta semana, revela aquilo que os espanhóis pensam e foi realizada no curso do mês de Março, auscultando as opiniões de 2400 inquiridos que permitiram concluir pelo desprezo geral dos espanhóis pelo conjunto das suas instituições. Aos escândalos da família real, juntam-se diferentes casos de corrupção que desacreditam a generalidade do mundo político.
91% dos inquiridos desaprovam a actividade dos partidos políticos e apenas 7% aprovam a forma dos partidos assumirem o seu papel na vida nacional. Somente 19% se manifestou favorável ao governo do PP liderado por Mariano Rajoy. Uma sondagem paralela a esta publicada pelo diário “El País” mostra que os dois grandes partidos da Espanha, o Partido Popular (P.P.) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), juntos, não atingem um total de 50% da intenção de votos. O PP, vencedor das eleições de Novembro de 2011 com uma maioria esmagadora, receberia apenas 24,5% dos votos e os socialistas 23%, se as eleições fossem agora. 
Com a Espanha a destrunfar e o rei fora do baralho, o futuro depois da crise será ainda mais difícil para todos os povos ibéricos, quer sejam hoje parte integrante de Castela, ou simples vizinhos, como nós.

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Este texto é uma delícia, por ser uma perfeição no uso da língua, no conteúdo, na clareza e na harmonia da construção.
A começar pelo título e a terminar no último parágrafo.

Isto é dizer o óbvio?
- Claro que é.

Mas apeteceu-me dizê-lo.

10 de abril de 2013 às 18:58  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Resposta de JL:

«Sempre fico envergonhado com os amáveis comentários que me dirige a propósito de certos textos.Foi o caso,desta vez.Agora que lê-lo sabe bem e que ninguém precisa de saber que sinto vaidade e prazer que me pagam o gozo de ir escrevendo estas coisas, também é verdade.É óbvio?Será.Mas fico a dever-lhe mais esta sua gentileza.
Seu,
Joaquim Letria»

11 de abril de 2013 às 11:01  

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