Esta vida são dois dias
Por Joaquim Letria
DEVEMOS
diminuir o tempo que gastamos com as nossas preocupações. Que bom que
seria se nós, que entrámos num período com menos tempo para viver,
pudéssemos recuperar todo o tempo que gastámos a preocupar-nos com as
nossas vidas. Podíamos então prometer que, daqui para a frente,
passaríamos a gastar o mesmo tempo a pensarmos naquilo que vamos fazer
no futuro.
As
preocupações são uma tremenda perda dum precioso e limitado tempo de
vida. Temos de aprender a reduzir as nossas preocupações ao mínimo, ou
mesmo eliminá-las o mais possível, de molde a podermos dispor do máximo
de tempo para o dedicar a construir a nossa felicidade.
As preocupações são uma barreira, quase intransponível, para impedir o acesso à alegria, à satisfação e ao contentamento.
Convençam-se
que preocupar-nos não ajuda a resolver o que quer que seja. Quando se
convencerem de que preocupar-nos não resolve praticamente nada, vamos
sentir uma liberdade e um alívio difícil de descrever. Virem as costas
às vossas preocupações e virem-se para aquilo e aqueles de quem mais
gostam e que vos dá maior prazer.
Os
velhos são vistos por muita gente como fontes de aborrecidas
preocupações. Quem combateu, ou teve familiares em qualquer guerra, é
natural que se preocupe mais com a política e com os negócios
estrangeiros, assim como quem viveu os anos difíceis da II Guerra
Mundial, com racionamentos e restrições, estimulará preocupações
financeiras, apagará as luzes quando não são necessárias, gastará menos
água e aproveitará melhor o que sobra das refeições.
Mas nada disto está mal. O mal é estragar a nossa vida quotidiana e não
pensarmos noutra coisa que não sejam desgraças. Porquê preocupar-nos em
excesso? É esse excesso de ralações que nos envenena o presente e nos
faz perder dias, meses e anos que não recuperaremos mais.
Todos
nós sabemos que esta vida são dois dias. Demasiado curta para nos
preocuparmos com o que vai acontecer ou, até, poderá nunca suceder.
Um
bom conselho é nós concentrarmo-nos no presente, focar-nos no dia de
hoje e deixarmos de nos torturar com aquilo que, muitas vezes, só
existe, acontece ou pode acontecer nas nossas cabeças.
Devemos também lembrar-nos e pensarmos no efeito do tempo. O que for,
soará – como diziam os nossos mais velhos - e o que soará, logo se verá!
Parem e pensem que ralarem-se em excesso só vos faz mal. Ocupem as
vossas cabeças com uma coisa de cada vez, se possível.
Um
velho conselho, que nos foi dado há milhares de anos, foi “CARPE DIEM”.
Esta expressão, em latim, significa “AGARREM O DIA!”. E ainda hoje esta
é uma recomendação certa e actual que nos chega da nossa cultura
greco-romana. Pense no futuro, para estar preparado com o que vai
acontecer e planear o que vai fazer, mas depois concentre-se no presente
e desfrute e governe cada dia que passa, em vez de se mortificar com
preocupações de coisas que não sabemos como vão suceder nem, sequer, se
realmente acontecem. Por isso mesmo, o mais importante é o dia
presente.
Planifique
o futuro, prepare-se para o que certamente vai acontecer, resolva os
problemas com cabeça, pense, não perca tempo e divirta-se! Se tem medo
de alguma coisa, identifique e isole esse problema. Estes são receios e
apreensões legítimas! Se pensar como vai enfrentar essa questão, e
estiver preparado, diminui muito as suas preocupações.
Aceite
as coisas que acontecem e que já não pode evitar. Perdoe e contenha-se
perante pessoas de quem não gosta e dificilmente pode suportar. Mas não
tenha essa aceitação duma forma passiva. Pense como reagir ou
comportar-se perante alguém ou numa nova realidade, conforme aos seus
interesses e às suas conveniências. Mas encare o futuro com outra frase
que também ela nos diz tudo:” O QUE FOR, SERÁ”! E conte até 10 antes de
se manifestar...
O receio e as preocupações são endémicas e naturais ao dia-a-dia moderno
dos seres humanos. Os mais velhos de nós, naturalmente que pela sua
experiência e pelo seu conhecimento, sabem e podem não só dar estes
conselhos, mas também segui-los, enquanto os mais jovens acharão difícil
fazê-lo. Mas é natural que assim seja, pois é a muita experiência e o
muito tempo de vida que o determinam. O Diabo sabe muito não por ser o
Diabo, mas por ser velho.
Os
cientistas e os médicos que estudam estas coisas e se preocupam com o
que vai nas nossas cabeças sabem uma coisa muito importante: elas ocupam
e mortificam mais aqueles que pouco têm que os ocupe, ou mesmo nada com
que se preocupar.
Ruminarmos
acerca de coisas más que nos podem acontecer, ou aos nossos entes
queridos, é completamente diferente de ter questões reais e concretas
para resolver. Quando assim fazemos, estamos a defender-nos e aos
nossos, em vez de estarmos a cansar-nos e a torturar-nos, gastando os
nossos recursos de conhecimento num sentido errado, sem nada de concreto
para além de situações possíveis ou inverosímeis.
Uma
estratégia importante para reduzir as nossas preocupações é aumentar o
tempo gasto com questões e problemas concretos, resolvendo-os, ou
ajudando a resolvê-los, e eliminando, ou diminuindo drasticamente, o
tempo de imaginarmos ou criarmos preocupações.
Tal
como nos cuidados a ter com o corpo, fazendo exercício sempre que
possível, também é desejável ocuparmos o nosso tempo e as nossas cabeças
com actividade real, que não nos mortifique nem nos faça perder um
tempo precioso desta nossa curta passagem pela Terra, sempre tendo em
mente que esta vida são dois dias.
Etiquetas: JL
2 Comments:
Disse alguém:
"Pré-ocuparmo-nos? Basta que nos ocupemos, quando for o momento."
E no entanto...
Ademais com os representantes e governantes que temos e com os que temos tido...
Eleitos por... nós!
Mas o texto está imbatível, pela realidade, pela sabedoria e pela ironia.
Carpe Diem.
Sursun Corda.
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