O advogado canalha e suas consequências
Por Ferreira Fernandes
HÁ ANOS, no Tribunal de Instrução Criminal, mandaram-me para uma salinha de espera. Já lá estava sentado um negro solitário, mãos a apoiar a cara e olhos no chão. Pouco depois, entrou um cavalheiro, pasta e sapatos com berloques. Apresentou-se ao negro: era advogado e estava ali porque alguém - "o seu primo", disse ao infeliz - lhe pedira. Olhou à volta, não gostou de me ver, tentou sair com o cliente mas um polícia, no corredor, proibiu-o. Foram para um cantinho e o advogado tranquilizou-se com a atenção que eu devotava a uma revista. A sala pequena permitiu-me adivinhar a história: nessa manhã, chegado no voo de Bissau, o negro fora preso com um pacote de droga na mala. Os pormenores ouvi-os sussurrados pelo advogado: "Não, você não sabia o que havia no pacote. Foi um tipo - você não sabe quem, mas vocês africanos são assim, uns para os outros - que lhe deu o saco e você até pensou que era para feitiços. Vocês africanos acreditam nessas coisas, não é?" O outro dizia que sim com a cabeça...
De vez em quando lembro-me da cena. Ontem, outra vez, quando li, no Público, a história de Lucinda Barbosa, ex-diretora da PJ em Bissau, e de Carmelita Pires, ex-ministra da Justiça guineense, que lutaram para que o seu país não fosse abocanhado pelos narcotraficantes, e perderam. Ambas mulheres de Direito e direitas. O advogado dos berloques se um dia se cruzar com elas trata-as de "ilustres colegas". O que é só meia verdade.
«DN» de 13 Abr 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
2 Comments:
Conheço alguns advogados confiáveis, mas os restantes (a maioria) são uns aldrabões.
a sociedade seria mais justa e feliz sem advogados?
esse negro não mereceria ser apoiado,quando provavelvente não passava de um mero peão dos traficantes encartados ao serviço das grandes potências que, duma maneira ou doutra, alimentam o sistema e os seus esquemas injustos para os cidadãos?
armas e drogas de mãos dadas a servir a esculmalha mundial! o resto é moralismo oportunista.
gosto tanto das suas crónicas, que às vzes as releio,para me certificar...
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