9.5.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
ANTÓNIO José Seguro foi ao Congresso do PS «pedir com clareza aos portugueses uma maioria absoluta para governar». Quando ainda faltam dois anos e meio para as próximas legislativas? Está a contar com eleições antecipadas? Mas não está nas suas mãos provocá-las.
Quanto muito, estará nas de Paulo Portas, que pode romper a coligação. Qual o sentido, então, de pedir agora uma imaterializável maioria? Iludir os militantes e, de caminho, iludir-se a si próprio? Mostrar que é capaz de chegar ao mesmo patamar eleitoral de Sócrates?
Podem parecer devaneios próprios de um líder incapaz de sair da adolescência política, mas são mais do que isso. São todo um estilo de fazer oposição: o de prometer – sempre «com toda a clareza» – o que não tem meios de fazer cumprir.
Vejamos. Nas suas propostas para acabar com a austeridade, o líder do PS acena com uma moratória no pagamento dos juros da dívida até 2020. Coisa que está fora do seu alcance. São os financiadores da troika que decidem se e quando flexibilizam, ou não, os prazos de pagamento. Seguro propõe, também, abater 6 mil milhões de euros da dívida pública retirados ao BCE e a lucros que este terá feito com a dívida portuguesa. É outra quimera que não tem hipótese de concretizar. E não parece que seja capaz de intimidar Mario Draghi com ameaças ou pedindo adiamentos «com muita clareza».
Já para fomentar o crescimento económico e o emprego, o secretário-geral do PS propõe-se redireccionar para a economia 3 mil milhões do empréstimo da troika não utilizados pela banca. Como é óbvio, não tem meios de impor tal coisa. Além de que Bruxelas e o FMI já antes fizeram saber que isso não é possível. O líder socialista sugere, também, reduzir o rácio da banca de 10% para 9%, libertando 4,5 mil milhões de crédito para as empresas. Decisão que, mais uma vez, não depende dele. Mas do Banco de Portugal, do Comité de Basileia da Supervisão, do BCE e de outros.
Seguro tornou-se um especialista de falinhas mansas nesta arte de anunciar o que não está nas suas mãos cumprir. Desde eleições antecipadas a moratórias e perdões de dívida. Só lhe falta prometer que, se chegar ao Governo, Portugal irá descobrir petróleo na costa alentejana e gás natural no litoral algarvio. Resolvendo, num ápice, todos os problemas do país. 
«SOL» de 3 Mai 13

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