«Dito & Feito»
Por José António Lima
ANTÓNIO José Seguro foi ao Congresso do PS «pedir com clareza aos
portugueses uma maioria absoluta para governar». Quando ainda faltam
dois anos e meio para as próximas legislativas? Está a contar com
eleições antecipadas? Mas não está nas suas mãos provocá-las.
Quanto
muito, estará nas de Paulo Portas, que pode romper a coligação. Qual o
sentido, então, de pedir agora uma imaterializável maioria? Iludir os
militantes e, de caminho, iludir-se a si próprio? Mostrar que é capaz de
chegar ao mesmo patamar eleitoral de Sócrates?
Podem parecer
devaneios próprios de um líder incapaz de sair da adolescência política,
mas são mais do que isso. São todo um estilo de fazer oposição: o de
prometer – sempre «com toda a clareza» – o que não tem meios de fazer
cumprir.
Vejamos. Nas suas propostas para acabar com a
austeridade, o líder do PS acena com uma moratória no pagamento dos
juros da dívida até 2020. Coisa que está fora do seu alcance. São os
financiadores da troika que decidem se e quando flexibilizam, ou não, os
prazos de pagamento. Seguro propõe, também, abater 6 mil milhões de
euros da dívida pública retirados ao BCE e a lucros que este terá feito
com a dívida portuguesa. É outra quimera que não tem hipótese de
concretizar. E não parece que seja capaz de intimidar Mario Draghi com
ameaças ou pedindo adiamentos «com muita clareza».
Já para
fomentar o crescimento económico e o emprego, o secretário-geral do PS
propõe-se redireccionar para a economia 3 mil milhões do empréstimo da
troika não utilizados pela banca. Como é óbvio, não tem meios de impor
tal coisa. Além de que Bruxelas e o FMI já antes fizeram saber que isso
não é possível. O líder socialista sugere, também, reduzir o rácio da
banca de 10% para 9%, libertando 4,5 mil milhões de crédito para as
empresas. Decisão que, mais uma vez, não depende dele. Mas do Banco de
Portugal, do Comité de Basileia da Supervisão, do BCE e de outros.
Seguro
tornou-se um especialista de falinhas mansas nesta arte de anunciar o
que não está nas suas mãos cumprir. Desde eleições antecipadas a
moratórias e perdões de dívida. Só lhe falta prometer que, se chegar ao
Governo, Portugal irá descobrir petróleo na costa alentejana e gás
natural no litoral algarvio. Resolvendo, num ápice, todos os problemas
do país.
«SOL» de 3 Mai 13 Etiquetas: autor convidado, JAL
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