Grande ou de rastos sabe bem vê-lo
AGORA que há vídeos devíamos aproveitar mais José Mourinho. Ele é o género de
tipo que traz para a cara as jogadas frias que prepara. Tão centrado
está nele próprio que nem repara quanto se expõe: nos dias ganhadores
tem cara para se publicar, sem retoques, em capa de revista de moda; nos
dias perdedores parece que lhe faz falta um jornal enrolado na mão para
indicar, por uma moedinha, um lugar de estacionamento. Nunca ele foi
tão ganhador (tão Julien Sorel, em O Vermelho e o Negro, a entrar em
Paris) como quando, vindo da sua primeira Champions, chegou ao Chelsea, o
seu primeiro clube milionário. Sorel disse a frase emblemática da
ambição jovem: "À nous deux, Paris!" (agora é só connosco, Paris...);
Mourinho traduziu-se assim: "Sou The Special One"...
Nunca ele foi tão
perdedor como agora, no maior clube do mundo, o Real Madrid, com um
balanço medíocre: três anos e uma só terminação, um campeonato, e
nenhuma taluda, nem uma Champions. Vê-se-lhe na barba por fazer e
olheiras que é também esse o seu balanço. Até a fealdade interior ele
expõe: permite-se desprezar publicamente os seus jogadores (Cristiano,
Pepe...), enquanto cuida cupidamente de sair do clube sem pagar a
indemnização acordada.
Devíamos aproveitar e olhar mais José Mourinho.
Ele dá-se-nos na grandeza e na miséria. E nós podemos admirá-lo ou
gostar de o ver de rastos sem que isso nos belisque a consciência. Nada
como um egoísta para praticarmos nele o cinismo.
«DN» de 6 mai 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home