8.5.13

Grande ou de rastos sabe bem vê-lo

Por Ferreira Fernandes
AGORA que há vídeos devíamos aproveitar mais José Mourinho. Ele é o género de tipo que traz para a cara as jogadas frias que prepara. Tão centrado está nele próprio que nem repara quanto se expõe: nos dias ganhadores tem cara para se publicar, sem retoques, em capa de revista de moda; nos dias perdedores parece que lhe faz falta um jornal enrolado na mão para indicar, por uma moedinha, um lugar de estacionamento. Nunca ele foi tão ganhador (tão Julien Sorel, em O Vermelho e o Negro, a entrar em Paris) como quando, vindo da sua primeira Champions, chegou ao Chelsea, o seu primeiro clube milionário. Sorel disse a frase emblemática da ambição jovem: "À nous deux, Paris!" (agora é só connosco, Paris...); Mourinho traduziu-se assim: "Sou The Special One"... 
Nunca ele foi tão perdedor como agora, no maior clube do mundo, o Real Madrid, com um balanço medíocre: três anos e uma só terminação, um campeonato, e nenhuma taluda, nem uma Champions. Vê-se-lhe na barba por fazer e olheiras que é também esse o seu balanço. Até a fealdade interior ele expõe: permite-se desprezar publicamente os seus jogadores (Cristiano, Pepe...), enquanto cuida cupidamente de sair do clube sem pagar a indemnização acordada. 
Devíamos aproveitar e olhar mais José Mourinho. Ele dá-se-nos na grandeza e na miséria. E nós podemos admirá-lo ou gostar de o ver de rastos sem que isso nos belisque a consciência. Nada como um egoísta para praticarmos nele o cinismo. 
«DN» de 6 mai 13

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