Os Bombistas de Boston
Por Maria Filomena Mónica
AINDA não estava refeita do jet lag causado por uma viagem a Boston, quando, ao abrir a televisão, me apercebi de que alguém havia colocado bombas no final de uma maratona. Tendo em conta que o meu ritmo circadiano é peculiar, continuava acordada quando a CNN mostrou imagens do que sucedera. Sozinha em casa, fiquei a olhar a televisão. A certa altura, notei um anúncio luminoso, tendo suspeitado, o que se viria a confirmar, que o pior acontecera junto de locais que conheço, a Biblioteca Pública de Boston, a estação de metro de Copley e o Jardim Público que, dias antes, vira, coberto de neve, da janela do meu hotel.
Os EUA têm coisas boas e más. Acontece que, ao olhar as reportagens, só me vieram à mente as boas, a começar nos Dabneys que me tinham levado até à América. Sim, fora a Boston, a fim de lançar um livro, por mim prefaciado, contendo as memórias de uma família oitocentista que, ao longo de três gerações, vivera no Faial. Ricos, cultos e filantropos, os cônsules americanos ajudaram os camponeses durante as crises de fome que assolaram a ilha. Acresce que os descendentes me receberam bem, que a cidade me ofereceu o maior nevão do século e que o Providence Athenaeum me proporcionou um ambiente acolhedor. Como era possível que, na cidade de Charles W. Dabney, um tal atentado pudesse ter sido cometido?
Foi nesse momento que recordei não ser aquela a minha primeira visita a Boston. Em 1978, um amigo levara-me ao tribunal, em Dedham, onde haviam sido julgados Sacco e Vanzetti, dois anarquistas acusados, em 1920, de homicídio, e depois envolvidos num julgamento onde nem todos os direitos haviam sido respeitados. O processo continua em aberto, havendo juristas convencidos de que o Estado executara inocentes.
Ao ver as peripécias que levaram à morte e prisão dos irmãos Tsarnaevs, decidi que, em vez de formular um juízo precipitado, aguardaria. À medida que o tempo passava, conclui que as regras de um Estado de Direito não haviam sido infringidas. Foi portanto com surpresa que, em conversa com um colega, de direita, e um amigo, de esquerda, ouvi versões extraordinárias do que ali se teria passado. O mais provável, explicaram-me, era que o atentado fosse obra da polícia americana. Quando interrogados sobre a motivação, as respostas assemelhavam-se a um guião de ficção científica.
Há quem odeie os EUA por dois motivos: a direita, por ainda olhar aquele país como uma colónia, a esquerda por Washington representar a sede de um Império maligno. É provável que, no passado, os serviços secretos americanos tenham cometido crimes, mas como saltar deste reconhecimento para a ideia, também presente aquando do atentado às Torres Gémeas, de que os americanos são capazes de colocar bombas em solo próprio? Os adeptos de conspirações bizantinas e os manos de origem tchetchena têm em comum sentimentos tão desprezíveis quanto a frustração, o medo e o ódio. É isto que os impede de compreender o que é uma sociedade democrática, aberta e livre.
«Expresso» de 11 Mai 13Etiquetas: FM
2 Comments:
OS EUA SÃO PODEROSOS E NÃO INSPIRAM AS ALMAS LAVADAS...
OS RICOS TAMBÉM...
AS PESSOAS COM RAZÕES DE QUEIXA REAGEM.DE ONDE PODERIA VIR A ENERGIA PARA O COMBATE?DAS MORDOMIAS DAS TAIS FAMÍLIAS RICAS,CULTAS E PATUDAS?
LÁ NO FUNDO VOCÊ DESPREZA AS PESSOAS NORMAIS... QUE TÊM MEDO,COBARDIA,FRUSTRAÇÕES!
AS ESFINGES É QUE NÃO PERCEBEM!naturalmente...
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