Os espiões já não são o que eram
Por Ferreira Fernandes
NOS BONS velhos tempos, a preto e branco, leste-oeste, se a URSS tinha um
espião americano, ele era um piloto abatido a filmar bases russas (1960,
Gary Powers, piloto de um U-2). Seguiam-se jogos de xadrez entre
líderes mundiais. Nikita Khrushchov: "Abatemos um avião espião." General
Eisenhower (pensando que o piloto tinha morrido): "Qual espião? Era um
avião de meteorologia, perdido." Khrushchov (fazendo xeque-mate) : "Ai
era? Não é o que diz o piloto...", e mostra-o em tribunal. Tudo acabava
meses depois numa ponte de Potsdam, entre duas Alemanhas e trocas de
espiões...
Preto e branco, leste-oeste, duas margens. Hoje, o espião
americano se o era, foi em part-time, está arrependido, entra na Rússia
num voo em classe turística e avisa que já marcou voo seguinte para
Havana. Os jornalistas marcam lugares nas cadeiras ao lado, fotografam a
vazia e escrevem no Twitter, desiludidos: "Afinal, Snowden não
apareceu." Vivemos dias em que é surpresa os espiões não cumprirem o que
anunciam. Entretanto, o espião continua no aeroporto de Sheremetyevo,
em Moscovo, mas a CIA não sabe se no lounge para passageiros frequentes
com cartão Gold, se escondido numa casa de banho ao lado do Duty Free. O
segredo de Edward Snowden é que os americanos sabem tudo. O álibi dos
americanos é que não sabem de Snowden. Diz Putin: "É como tosquiar um
porco, muitos gritos mas pouca lã." Resta essa constância histórica: os
líderes russos continuam manhosos.
«DN» de 26 Jun 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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