A segunda revolta do 'Marreta'
Por Ferreira Fernandes
MARRETAS
chamavam, na independência brasileira, aos portugueses não conformados
com o fim da colónia. Depois, veio o programa televisivo em que dois
bonecos, os Velhos dos Marretas, resmungavam por tudo. Marreta é um
telhudo a contracorrente, reaça, marrando nas modas. Não costuma ser boa
companhia, nem ele o quer. Porém, em tempos de sentimentos fáceis do
"és meu amigo?" e "likes", ser marreta carrega um anticonformismo
salutar. Era assim o touro, 500 quilos e só um corno, que o criador
Manuel Farinhoto, da quinta do Perre, Viana do Castelo, mandou em maio
para o matadouro. Ao subir para a camioneta final, o Marreta
(imprevidente, o criador dera-lhe esse nome) revoltou-se e fugiu. Um
companheiro, que já estava na camioneta, seguiu-lhe o mugir de Ipiranga e
embrenharam-se ambos nos montes de Outeiro. O outro lá anda na
guerrilha, mas o Marreta foi apanhado pelas forças repressivas da GNR.
Comoção nacional, campanhas de Facebook e angariaram-se 1378 euros para a
carta de alforria do Marreta. A troca foi selada, além dos euros, com
presunto e chouriço (a independência dos porcos é outra fase...) Em
Palhaça, Aveiro, um campo largo e a felicidade esperavam o Marreta.
"Mandem fotos e vídeos!", pedia alguém no Facebook. Não brinquem com a
comoção, há muito animal maltratado e estas campanhas são boas. Mas
acontece que, ontem, o Marreta voltou a fugir e anda a monte. Não tiro
lição nenhuma. Conto-a porque gosto desta história.
«DN» de 18 Jul 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
2 Comments:
As contradições dos novos tempos. Um hamburguer no Mcdonald's nada tem a ver com um Marreta qualquer.
É tão fixe ter bué de amigos. E enão ter um Marreta... é um must!
Não há mais nada para fazer por isso brinquemos ao faz de conta, especialmente agora que nem futebol, nem passos, nem portas: Like, lie, likes, lies...
Todo o mundo prá praia, já!
Pode ser que na Caparica as alvas dermes da malta seja acometida do prurido final: fora a troika e acólitos!
Deveria ter ficado "E então ter um Marreta..."
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