11.7.13

O solitário copo de Belém que diz tanto...

Por Ferreira Fernandes
O PRESIDENTE lá deu o aval esperado, uma semana depois de ouvida tanta gente. Previsível, a situação política. Tão imóvel que mais vale uma análise mobiliária. Cavaco recebeu sentado num fauteuil de estilo Luís XVI, que foi rei deposto, ao lado da secretária onde Spínola renunciou - no Palácio de Belém não se receiam analogias. O que parece contar são os pequenos confortos, o fauteuil permite apoiar os dois braços, enquanto ao pobre político ou sindicalista ouvido se dá um canapé que o obriga a ficar com um braço desasado. Entre Sua Excelência e o visitante, uma mesinha que reforça o privilégio do dono do palácio. Da coligação ou da oposição, todos têm tratamento democrático: um copo de água com elegante guardanapo a fazer de tapa, para o Presidente, e regime seco para o visitante. Pormenor elucidativo : o Google mostra Angela Merkel, ali, mas, ela, também com copo e guardanapo... Na mesinha, ainda, um abajur com, por pé, dois querubins. Na hierarquia dos anjos, ao lado dos serafins e dos tronos, os querubins estão no topo e têm nome vindo do aramaico kérub, que quer dizer "aqueles que comunicam." Podia ser bom não fosse um dos querubins virar as costas ao visitante, e o outro ao Presidente. Podia ser pior se fossem serafins, anjos que incendeiam, ou tronos, anjos que dão música... Enfim, é o que há para dizer. Se quiserem mais seco, é assim: a crise começou com a demissão de um contabilista e acabou num avalista.
«DN» de 11 Jul 13

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