O solitário copo de Belém que diz tanto...
Por Ferreira Fernandes
O
PRESIDENTE lá deu o aval esperado, uma semana depois de ouvida tanta
gente. Previsível, a situação política. Tão imóvel que mais vale uma
análise mobiliária. Cavaco recebeu sentado num fauteuil de estilo
Luís XVI, que foi rei deposto, ao lado da secretária onde Spínola
renunciou - no Palácio de Belém não se receiam analogias. O que parece
contar são os pequenos confortos, o fauteuil permite apoiar os
dois braços, enquanto ao pobre político ou sindicalista ouvido se dá um
canapé que o obriga a ficar com um braço desasado. Entre Sua Excelência e
o visitante, uma mesinha que reforça o privilégio do dono do palácio.
Da coligação ou da oposição, todos têm tratamento democrático: um copo
de água com elegante guardanapo a fazer de tapa, para o Presidente, e
regime seco para o visitante. Pormenor elucidativo : o Google mostra
Angela Merkel, ali, mas, ela, também com copo e guardanapo... Na
mesinha, ainda, um abajur com, por pé, dois querubins. Na hierarquia dos
anjos, ao lado dos serafins e dos tronos, os querubins estão no topo e
têm nome vindo do aramaico kérub, que quer dizer "aqueles que
comunicam." Podia ser bom não fosse um dos querubins virar as costas ao
visitante, e o outro ao Presidente. Podia ser pior se fossem serafins,
anjos que incendeiam, ou tronos, anjos que dão música... Enfim, é o que
há para dizer. Se quiserem mais seco, é assim: a crise começou com a
demissão de um contabilista e acabou num avalista.
«DN» de 11 Jul 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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