7.8.13

A embrulhada dos "swaps"

Por Baptista-Bastos
ESTÁVAMOS habituados aos rituais das palavras comuns, eis senão quando se introduziu uma outra, levemente rastejante como um verme, que sobressaltou a rotina dos nossos dias: swap. Não é um acrónimo, como pode parecer: é uma expressão inglesa que possui um significado ameno mas, pelos vistos, com resultados inquietantes. Permuta, troca, aqui está o que quer dizer a palavra. Permuta entre bancos, para exprimir o exacto sentido de swap. E começa agora a turbulência do que está em causa. Quando mete bancos as pessoas vulgares estremecem de receios, densas vezes bem justificados. O mundo dessas organizações é mais secreto do que parece, e tudo o que respeita a dinheiro pode conduzir a tudo o que respeita ao que de pior se oculta entre os homens. Depois, o processo bancário é o grande pilar do sistema, no qual os enredos chegam a ser charadas impenetráveis.
A polémica portuguesa actual sobre os swaps resulta do grande imbróglio financeiro e, diga-se de passagem, é uma componente dos modos capitalistas usuais. Ao que chegámos a entender, foram criados esses "produtos" como salvaguarda de aldrabices e embustes, que alguns bancos propuseram aos Governos, a fim de estes viciarem as contas públicas e os orçamentos gerais do Estado. José Sócrates recusou a proposta, diga-se de passagem. A rede é imensa e complexa. Até agora, apenas meia dúzia de indicados, sem haver muitos acusados, a não ser alguns bancos e agentes secundários. Por portas travessas, alguns treparam a postos governamentais, lugares privilegiados para a negociata.
Porque de negociata se trata. A natureza dos swaps traduz-se em riscos imponderáveis, e nada indica que os bancos sejam, em primeira ou última instância, os prejudicados. Quando, longinquamente, o são, os contribuintes pagam a vazada, através de tributações e impostos violentíssimos. Como se tem visto.
A cultura do capitalismo passou a ser a cultura do não interdito. Quase tudo é permitido, porque a inconsistência da autoridade e a cada vez mais acentuada crise de valores estimulam o vandalismo da alma que nos empurra para este tipo de sociedade. A ganância, o lucro pelo lucro sem limites nem peias morais, tornaram-se cartas-de-alforria de uma época que se esvaziou de sentido.
Os partidos são cada vez mais semelhantes, e o caso do PS, conluiado ideologicamente com o PSD, não é original português: faz parte da crise geral da Esquerda que atravessa a Europa. Nos swaps, a responsabilidade política terá de ser dividida entre aqueles dois partidos. Nenhum deles sai impune da embrulhada, assim como nenhum deles é capaz de no-la explicar com seriedade. Somos os excluídos das grandes questões que nos afectam directamente. O poder financeiro favelou-nos, uniformizando o empobrecimento como doutrina, para que uma classe dirigente reduzida adquira um poder quase patogénico.
«DN» de 7 Ago 13

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