O Berlusconi do vizinho...

Por Ferreira Fernandes

NO OUTRO dia, Ancelmo Góis, colunista do jornal O Globo, contou que Londres estava com 34 graus e o metro sem ventiladores. E ele, habitante do Rio, ironizou assim sobre os pobres londrinos: "Deve ser terrível viver num país que tem problemas no seu sistema de transportes..." Não foi truque jornalístico para fugir à censura que impede criticar os problemas nacionais (no Brasil a imprensa é livre) nem foi aplicação da famosa frase brasileira "pimenta no rabo do outro é refresco". Ancelmo estava, claro, a criticar os transportes públicos no Rio de Janeiro. E ao buscar um exemplo estrangeiro, rejeitando uma lei do jornalismo - a que diz que a proximidade dos factos aumenta a importância que os leitores lhes dão -, ele invertia essa lei porque certos factos vemo-los bem melhor de longe. Ocorridos noutro país - porque nos liberta de julgamentos inquinados e pessoais -, torna-nos mais lúcidos. 

Todos os portugueses, de direita ou de esquerda, estão mais bem armados do que os italianos para entender moralmente o escândalo Berlusconi. "Deve ser terrível viver num país com um político corrupto assim...", poderíamos dizer. É verdade, também, que os italianos podem entender melhor do que nós o BPN. E dou este exemplo porque, entre os grandes escândalos, é aquele que, no essencial, não carece de mais investigação. Experimentem contar o que já se sabe (não o suposto, mas o dito, escrito e confessado) a um estrangeiro. E oiçam-no.

«DN» de 5 Ago 13