«Dito & Feito»
Por José António Lima
HÁ UMA sombra que paira, há largos meses, sobre a vida política
portuguesa e domina todos os passos e acontecimentos da sua evolução.
Foi
ela que ensombrou os últimos tempos da governação de Vítor Gaspar e o
levou a abandonar, com uma carta ressentida, a pasta das Finanças. Foi
ela que empurrou Paulo Portas para sucessivas situações de ambiguidade,
com um pé dentro e outro fora do Executivo, desde a TSU propriamente
dita à TSU dos pensionistas e à sua descontrolada carta de demissão. Foi
ainda ela que forçou António José Seguro a assumir a ruptura do ‘acordo
de salvação nacional’ proposto por Cavaco Silva, desperdiçando a
oportunidade de ter eleições antecipadas em 2014. E será ela a
condicionar a próxima rentrée política e a discussão do decisivo
Orçamento para 2014.
Como é óbvio, essa sombra omnipresente e que
parece não ter vontade de se desvanecer é o tão falado corte de 4,7 mil
milhões de euros na despesa do Estado. Que se corporiza na dispensa de
mais alguns milhares de trabalhadores da administração pública, no corte
médio de 15% nas pensões da CGA, no aumento dos horários de trabalho e
da idade da reforma, etc. Sem este tipo de medidas não será possível a
Portugal reduzir, nos próximos anos, o seu défice para os níveis a que
se comprometeu nem travar a sua insustentável dívida. PSD, PS e CDS
sabem-no bem.
E se a última crise política serviu para alguma
coisa de útil foi para amarrar irrevogavelmente o fragilizado Paulo
Portas ao cumprimento rigoroso destas medidas – sem mais protestos nem
encenações. Ainda para mais na posição de vice-primeiro-ministro. Portas
tornou-se refém de si próprio e do Governo.
Só este PS de
compreensão lenta é que não percebeu o filme. E veio escandalizar-se,
pela voz do preclaro Alberto Martins, dizendo que «o partido mais votado
nas últimas eleições é, agora, o segundo partido da coligação. Cujo
Governo é liderado, na prática, pelo líder do CDS». Já Mário Soares fez
logo o retrato: «Portas vai perceber que o lugar de
vice-primeiro-ministro é um presente envenenado». Soares, politicamente
falando, estará um bocadinho gagá. Mas não tem nada de tolo. Ao
contrário deste PS.
«SOL» de 2 Ago 13 Etiquetas: autor convidado, JAL
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