5.8.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
HÁ UMA sombra que paira, há largos meses, sobre a vida política portuguesa e domina todos os passos e acontecimentos da sua evolução.
Foi ela que ensombrou os últimos tempos da governação de Vítor Gaspar e o levou a abandonar, com uma carta ressentida, a pasta das Finanças. Foi ela que empurrou Paulo Portas para sucessivas situações de ambiguidade, com um pé dentro e outro fora do Executivo, desde a TSU propriamente dita à TSU dos pensionistas e à sua descontrolada carta de demissão. Foi ainda ela que forçou António José Seguro a assumir a ruptura do ‘acordo de salvação nacional’ proposto por Cavaco Silva, desperdiçando a oportunidade de ter eleições antecipadas em 2014. E será ela a condicionar a próxima rentrée política e a discussão do decisivo Orçamento para 2014.
Como é óbvio, essa sombra omnipresente e que parece não ter vontade de se desvanecer é o tão falado corte de 4,7 mil milhões de euros na despesa do Estado. Que se corporiza na dispensa de mais alguns milhares de trabalhadores da administração pública, no corte médio de 15% nas pensões da CGA, no aumento dos horários de trabalho e da idade da reforma, etc. Sem este tipo de medidas não será possível a Portugal reduzir, nos próximos anos, o seu défice para os níveis a que se comprometeu nem travar a sua insustentável dívida. PSD, PS e CDS sabem-no bem.
E se a última crise política serviu para alguma coisa de útil foi para amarrar irrevogavelmente o fragilizado Paulo Portas ao cumprimento rigoroso destas medidas – sem mais protestos nem encenações. Ainda para mais na posição de vice-primeiro-ministro. Portas tornou-se refém de si próprio e do Governo.
Só este PS de compreensão lenta é que não percebeu o filme. E veio escandalizar-se, pela voz do preclaro Alberto Martins, dizendo que «o partido mais votado nas últimas eleições é, agora, o segundo partido da coligação. Cujo Governo é liderado, na prática, pelo líder do CDS». Já Mário Soares fez logo o retrato: «Portas vai perceber que o lugar de vice-primeiro-ministro é um presente envenenado». Soares, politicamente falando, estará um bocadinho gagá. Mas não tem nada de tolo. Ao contrário deste PS.
«SOL» de 2 Ago 13

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