«Dito & Feito»
Por José António Lima
MAIS DO QUE o Governo, o PS ou a restante oposição, mais do que a troika
ou o Presidente da República – o principal e mais decisivo protagonista
político dos próximos três meses vai ser o Tribunal Constitucional.
Porque
as deliberações que vai ser obrigado a tomar, para além da sua
formalidade jurídica, terão características inegavelmente políticas. E
porque se nem o Presidente nem o primeiro-ministro são poupados a
críticas e reparos, também o Tribunal Constitucional não pode ser
colocado acima do bem e do mal, imune a críticas legítimas à sua
actividade – como, aliás, ficou bem claro na intervenção de Passos
Coelho na festa do Pontal do PSD.
Já nas próximas duas semanas, o
TC irá decidir duas questões de elevado impacto político. Uma que
determinará se a limitação a três mandatos se aplica à função ou à
autarquia e se alguns reconhecidos ‘dinossauros’, como Menezes ou Seara,
podem ou não apresentar-se às eleições de 29 de Setembro. Reconheça-se
que o TC se vê obrigado a deliberar nesta matéria porque o poder
político e o Parlamento, em particular o PS e o PSD, recusaram
deliberadamente assumir o ónus de tal esclarecimento. E resolveram
atirá-lo para cima do poder judicial.
A segunda questão será mais
melindrosa e estrutural para o futuro do país: versará a
constitucionalidade, ou não, do diploma da mobilidade dos funcionários
públicos, enviada por Belém para o Palácio Ratton, e com o qual o
Governo prevê cortar umas centenas de milhões de euros na despesa do
Estado. A que se seguirão os diplomas das 40 horas de trabalho, da
convergência/corte das pensões da CGA e outros – que podem representar,
no total, cerca de 4 mil milhões de euros nos próximos Orçamentos do
Estado.
Passos Coelho avisou que «qualquer decisão não afectará só
o Governo, afectará o país» e que «podemos mesmo andar para trás», não
se coibindo de colocar o TC como actor do jogo político. Mas é bom não
esquecer que foi o próprio presidente do TC, Sousa Ribeiro, a arrastar o
Tribunal do terreno jurídico para o da acção política. Com a
intervenção e as ameaças que fez ao Governo no último Conselho de
Estado, há três meses. Que não venha agora vitimizar-se.
«SOL» de 23 Ago 13 Etiquetas: autor convidado, JAL
1 Comments:
A lei de limitação dos mandatos autárquicos, tal como está, é uma vergonha.
Acção vergonhosa foi também a dos legisladores que assim a produziram.
Em consequência, o resultado, qualquer que ele seja há-de ser, sem remédio, uma vergonha.
Ou seria, se ainda houvesse vergonha.
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