Um dó li tá e impugnado tu tá...
Por Ferreira Fernandes
EU NÃO PUGNO, impugno. Lutar, pugnar, cansa. Por isso eu impugno. Na boa tradição portuguesa. Em exame ou concurso, concorrem uns e outros, uns melhores que outros, e eu só me inscrevo. Vem o resultado e, caso não aconteça o milagre de eu ter ganho, impugno. E uma e outra e outra vez, até que os outros desistam. E sabem porque os outros desistem? Porque eles pugnam, e isso quer dizer, lutam. Dá cansaço e suor. A mim, não. Só acrescento um prefixo de negação ao pugnar deles. Impugno. Há sempre um atraso, uma vírgula mal colocada - à impugnação nunca lhe falta motivo. É isto que se faz desde sempre neste país de especialistas de torcer leis. E eis agora que a febre da impugnação dos concursos para porteiro ou catedrático saltou para a eleição dos alcaides. A base das impugnações tradicionais, já o disse, está no torcer das leis. Ora, agora, temos melhor: uma lei feita torta de propósito. Uma lei viciosa, sempre a pedir: vá, torce-me toda... Para as autárquicas os deputados inventaram uma lei com um penduricalho (uma mudança de "presidente da câmara" para "presidente de câmara") ávido de pareceres.
No princípio do ano, a 30 de janeiro, alertei aqui para a confusão que se instalaria. Estamos, agora, a um mês das eleições. Os tribunais parecem baratas tontas. E os partidos, à falta de terem resolvido o penduricalho, partem para a impugnação. Preferem a negação ("im") ao trabalho ("pugnação"). Do que estávamos à espera?
«DN» de 14 Ago 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Anda um cidadão a preparar-se anos a fio, a aprender a escola toda, a sacrificar-se 365 dias por ano em receções, jantares, inaugurações, chatices de assinar papeladas e etc. e quando menos se espera uma punhalada. Não é justo um candidato a um município ser travado por um "de", quando já tinha tudo preparadinho. E agora? Vai para os excedentes, para o desemprego?
O melhor será deixá-los concorrer todos. Quantos mais melhor. Mais discussão, mais cartazes, mais música, mais cortejos, mais, mais.
Para quê impugnações, tribunais, complicações? Ninguém ficaria ofendido se fosse permitida a inscrição de dois cabeças de lista. Contados os votos,como no futebol, lança-se a moeda ao ar: cara ou coroa? Ganhava o que acertasse.
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