Portugal de atendimento
Por Ferreira Fernandes
O PÚBLICO, ontem, mostrou-nos como vamos sair da crise: saindo. Não no sentido já tão badalado da emigração em massa dos nossos jovens, que essa é um sair corpóreo e pede vistos no passaporte, mas um ir lá para fora, cá dentro. E quando digo "cá dentro" ponham cubículo no termo. Enfim, o artigo era sobre call centers, linhas de montagem de telefonistas discando que são o mesmo que Charlot aparafusando no Tempos Modernos e por ordenados equivalentes aos desses tempos antigos. Pois essa regressão desumana seria "uma oportunidade extraordinária" para a nossa economia. Uma conjunção de fatores - "competências em línguas estrangeiras, boa infraestrutura tecnológica, salários baixos e desempregados em desespero" - faria de Portugal um paraíso para as centrais de atendimento. A homens trolhas e mulheres com bigode, as duas características com que nos pintam mal, juntar-se-ia a nossa mania para iniciar qualquer conversa, assim: "Em que posso ajudá-lo?" E em várias línguas!
Triste desandar de um povo que deu mundos ao mundo, ser destinado a esperar que o mundo venha ter com ele em chamadas telefónicas. No dizer de um dos entusiasmados com os call centers, a nossa estrutura tecnológia é boa e a nossa rede de fibra é a melhor do mundo. À partida isso parecia ser uma boa notícia, não é? Pois, pelos vistos, parece que vamos ter de pagar por isso...
Pergunto: de que me vale telefonar a pedir socorro se é um português que me atende?
«DN» de 12 Ago 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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