Pensões de subvivência
Por Ferreira Fernandes
AO SER homenageado, neste fim de semana, o escritor Mário de Carvalho
confessou um desejo: "Nunca perder o espírito de jogar com as palavras."
Ótima intenção, vinda de alguém que é mestre nelas. O drama é quando
outros malabarismos são feitos com as palavras. A expressão mais
badalada deste fim de semana foi "pensões de sobrevivência". Dizer-se,
hoje, que uma coisa foi muito falada leva logo à interrogação: e que mal
aconteceu às pensões de sobrevivência? Pergunta ociosa porque a
resposta é trivial: corte. Preparam-se, pois, pensões de subvivência,
isto é, cortes nas pensões de sobrevivência. Somos quase todos leigos em
matéria de legislação da Segurança Social, ao contrário do que julgam
os artigos dos jornais (que também nos pensam experts em swaps),
e ninguém teve a gentileza de começar por nos desembaraçar dos jogos de
palavras, os tais com que Mário de Carvalho lida bem, mas que nós
passaríamos bem sem eles. Uma coisa é inventar trocadilhos e fazer
calembures, outra, sofrê-los na pele. Então, aos pobres dos portugueses,
que lutam pela sobrevivência, querem agora cortar-lhes a pensão da
dita? Matematicamente, a medida é contraditória: cortando a
sobrevivência a sobreviventes, faz, por um lado, menos sobreviventes,
mas, por outro, mais sobreviventes daqueles que deixaram de ser
sobreviventes. Se calhar dava jeito ler o título de um livro de Mário de
Carvalho: Era Bom Que Trocássemos Umas Ideias sobre o Assunto.
«DN» de 7 Out 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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