13.12.13

Crónica 857 sobre o mesmo assunto

Por Ferreira Fernandes
De que estamos a falar quando estamos a falar? É este o problema do nosso diálogo social, nos cafés ou nos jornais: não se faz essa pergunta. A conversa dos portugueses passa ao lado dos factos. Conhecemos a teoria (temos, sabe-se, uma paixoneta pelos códigos de leis), mas desconhecemos a vida. Por exemplo, homens armados guineenses obrigam um avião da TAP a embarcar refugiados sírios com passaportes falsos. Homens, quantos? Armados com quê?... Iremos passar dias e talvez nunca se saibam esses factos. O próprio da converseta nacional é a teoria. Vai-se desencantar um causídico que nos dirá que uma transportadora aérea pode sempre recusar quem não tenha os seus documentos em ordem... Se fosse um assalto a um banco, o advogado debitaria a legislação que permite um caixa a não entregar notas sem apresentação de cheques nem identificação pessoal. O advogado fala (?) do poder de recusar da TAP ou do caixa, e nunca nos surge o pormenor factual de uma G-3 apontada à barriga que devia levar-nos à dúvida: será que pode, mesmo?... Ao contrário, continuamos falando sem falar: o comandante podia recusar? E, nas nuvens, o advogado é definitivo: "O comandante da TAP é soberano, pode recusar." Juro que ontem ouvi (ou li) conversetas destas. O que vale é que as nossas conversas sabemo-las sem utilidade prática. Ontem, se me mostrassem uma naifa, eu entregava a carteira e esquecia a soberania que tinha sobre ela.
«DN» de 13 Dez 13

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